Crítica | Missão: Impossível - O Acerto Final - Um encerramento visualmente hipnótico, politicamente relevante e emocionalmente imperfeito - como a própria missão que carrega há quase 30 anos

Divulgação | Paramount Pictures 

• Por Alisson Santos

Chegar ao fim nem sempre significa concluir. Às vezes, é apenas encontrar o melhor ponto de suspensão. Em Missão: Impossível - O Acerto Final, o que se apresenta como o encerramento da longa e visceral jornada de Ethan Hunt é, na verdade, um épico fragmentado entre espetáculo, peso simbólico e um mundo à beira da aniquilação. O filme, ambicioso em tudo o que propõe, mergulha o espectador numa tempestade de ameaças invisíveis, alianças frágeis e na eterna pergunta; até onde um homem deve ir por aquilo que acredita?

Desta vez, Ethan Hunt e sua equipe não enfrentam um terrorista com bombas ou um espião infiltrado. O inimigo é intangível; uma Inteligência Artificial chamada 'A Entidade', que manipula dados globais, falseia realidades, sabota sistemas e, o mais alarmante, controla códigos de ogivas nucleares. O risco de uma guerra nuclear, silenciosa e digital, paira sobre o filme como um fantasma inevitável.

Essa premissa, que parece saída de um editorial alarmista sobre o futuro das big techs e da geopolítica, injeta relevância e medo verdadeiro. Em vez de correr contra o relógio para desarmar uma bomba, corre-se para compreender uma ameaça que não obedece à lógica humana. A guerra aqui não é só de armas - é de algoritmos.

Christopher McQuarrie, que dirige seu quarto filme da franquia, consolida-se como um dos últimos diretores de ação que acreditam no espaço físico da cena. Em tempos de computação gráfica genérica e cenas montadas em pós-produção, seu trabalho é quase artesanal. Cada perseguição, cada luta, cada explosão tem peso, textura e geografia. Ele sabe onde posicionar a câmera para que o público sinta o impacto de um salto ou a tensão de um sussurro.

Os destaques são sequência ambientada num submarino russo à deriva e aquela dos aviões tão presente no marketing. McQuarrie domina o tempo; estica o suspense até o limite, sem nunca perder a clareza. Mesmo nas cenas mais caóticas, a ação nunca vira ruído. Tom Cruise, aos 62 anos, segue como uma aberração cinematográfica no melhor sentido possível. Ele não interpreta Ethan Hunt, ele é Ethan Hunt. A diferença entre ator e personagem há muito se dissolveu. Suas acrobacias são reais, e isso confere ao filme uma intensidade que nenhum CGI consegue replicar.

Divulgação | Paramount Pictures

Apesar da direção firme e da entrega física de Cruise, Missão: Impossível - O Acerto Final carrega um roteiro sobrecarregado. Em sua ânsia por concluir arcos, homenagear personagens e refletir sobre o futuro da humanidade, o filme se afoga em subtramas. Há momentos em que o ritmo emperra - e, mesmo com quase três horas de duração, algumas resoluções soam apressadas ou protocolares.

A vilania de "A Entidade", por mais conceitualmente interessante que seja, se enfraquece por ser excessivamente abstrata. Não há rosto, não há presença. E um inimigo sem rosto, no cinema, precisa de uma direção excepcional para funcionar plenamente, aqui, falta o impacto emocional que um antagonista como Solomon Lane ou August Walker traziam.

Missão: Impossível - O Acerto Final tenta ser muitas coisas ao mesmo tempo; espetáculo, testamento, alerta, drama humano e celebração de um ícone. Consegue em boa parte, especialmente no que tange à ação física e à construção da ameaça global. Mas perde força ao tentar condensar tudo num só filme. O resultado é grandioso, mas irregular. Brilhante, mas pesado.

Ainda assim, é impossível ignorar o quanto essa obra representa. É o adeus de uma era onde ação era feita com ossos quebrados, suor real e confiança no público. Se Ethan Hunt não voltar, e isso ainda é uma promessa vaga, ele ao menos se despede com dignidade, velocidade e alguma dor.

O oitavo capítulo da franquia estreia oficialmente em 22 de maio, mas conta com sessões especiais a partir do próximo sábado, 17.

Avaliação - 7/10

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