Crítica | Predador: Assassino de Assassinos - Não é apenas sobre monstros caçando humanos; é sobre o que acontece quando mitos colidem, e o tempo, por um instante, se curva para assistir.

Divulgação | Disney+

• Por Alisson Santos 

Há filmes que gritam, há filmes que sussurram, Predador: Assassino de Assassinos faz ambos. Primeiro, com o estrondo de suas batalhas, sua fúria animada, suas mortes coreografadas em um ritual sangrento. Depois, com o sussurro do que fica, o eco da pergunta que percorre cada era retratada; o que torna alguém digno de ser caçado?

Diferente de seus antecessores, que posicionavam o Predador como um invasor de florestas modernas ou cidades decadentes, este novo capítulo da franquia o transporta para os pontos mais épicos, e espiritualmente carregados, da história humana. A escolha é ousada e carrega peso; não se trata apenas de confrontar guerreiros com uma tecnologia alienígena, mas de cruzar linhas culturais e metafísicas. Uma viking ansiando por vingança, um samurai dividido entre o dever e o sangue, um mecânico de aviões americanos cercado de ruínas e monstros na Segunda Guerra Mundial, todos encaram o mesmo ser, e todos reagem com um tipo único de desespero.

O filme se apresenta como uma antologia, mas sua alma é contínua. Três contos interligados por um fio invisível; a morte como espelho da glória. Cada protagonista representa uma faceta do espírito humano diante do abismo; a vingança, a honra, a sobrevivência. A criatura, silenciosa, cruel, ritualística, observa e escolhe. E ao escolher, revela. Revela o que há de mais animal em nossos mitos mais humanos.

A estética é talvez sua arma mais potente. Animado com o Unreal Engine e banhado em influências que vão de Arcane a Akira, o visual do filme é uma tapeçaria de beleza violenta. As luzes cortam o nevoeiro como lâminas, as câmeras virtuais flutuam como olhos dos deuses, e a física dos combates, estilizados, mas não inverossímeis, acrescenta poesia a cada impacto. A névoa no Japão cai pesada como luto. O fogo na Europa consome tudo, menos a coragem. E nos campos vikings, o céu parece gritar junto com os guerreiros.

É aqui que o filme se distancia dos meros produtos de ação. Ele não busca apenas entreter com mortes criativas (embora o faça), mas construir atmosferas. Cada capítulo parece parte de um épico antigo, lido em noites escuras à beira de fogueiras. O uso da animação permite um nível de estilização quase mítico; os Predadores não são apenas alienígenas, são divindades da morte, caminhando entre culturas que já cultuavam a guerra como um altar.

Divulgação | Disney+

Contudo, como toda obra com ambição estética e filosófica, há desequilíbrios. A estrutura em segmentos impede um envolvimento emocional mais profundo. Ao nos apaixonarmos por um personagem, ele já está lutando sua última luta. A construção narrativa é eficaz, mas não emocionalmente duradoura. O espectador admira, mas nem sempre sente. É como ler uma elegia em vez de ouvir um grito.

Ainda assim, há de se reconhecer; Predador: Assassino de Assassinos é uma reinvenção necessária. Em vez de repetir fórmulas do passado, o filme expande o universo Yautja em direções inéditas no meio cinematográfico, insinua clãs, hierarquias, tecnologias ancestrais, códigos não apenas de caça, mas de significado, algo que é mais usado nos quadrinhos. O Predador aqui não é só uma arma viva. É um símbolo daquilo que resiste ao tempo; o confronto final entre o que somos e o que tememos ser.

E no final, quando os ecos das três histórias se entrelaçam em uma arena de morte que parece saída de um mito espacial perdido, não há apenas ação, há destino. Um ciclo se fecha. Mas outro se abre. O filme não termina, apenas avança. Como a própria criatura que retrata, ele sobrevive ao corte final, pronto para voltar, talvez no futuro, talvez em nosso próprio presente.

Predador: Assassino de Assassinos é uma elegia de aço e plasma, uma animação que sangra ideias e pulsa violência com beleza hipnótica. Seus tropeços são os de quem tenta voar alto demais, e por isso mesmo, são perdoáveis. Não é apenas sobre monstros caçando humanos; é sobre o que acontece quando mitos colidem, e o tempo, por um instante, se curva para assistir.

O filme já está disponível no Disney+.

Avaliação - 8/10

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