Crítica | Jurassic World: Recomeço - O verdadeiro dinossauro aqui é o roteiro, fossilizado em fórmulas desgastadas e enterrado sob camadas de oportunismo comercial.

Divulgação | Universal Pictures
 
• Por Alisson Santos

Desde que Steven Spielberg introduziu os dinossauros digitais ao cinema com a majestade de Jurassic Park em 1993, a franquia carregou uma promessa; maravilhar o espectador. No entanto, Jurassic World: Recomeço, dirigido por Gareth Edwards, parece não ter entendido o que fez esses filmes tão icônicos, e mais do que isso, parece ter esquecido como contar uma boa história.

Edwards, que demonstrou talento visual e narrativa consistente em Resistência, entrega aqui um trabalho que mais se parece com um produto de fábrica do que com uma experiência cinematográfica. Ainda que o título tente sinalizar um novo início, o que temos é um esgotamento criativo mascarado de reboot nostálgico.

A premissa, uma missão corporativa liderada por mercenários para coletar DNA de dinossauros em uma ilha restrita, não é necessariamente ruim. Há, inclusive, uma ideia potente no início; o mundo está cansado dos dinossauros. Essa seria uma abordagem inédita, quase meta-narrativa, capaz de injetar novo sangue em um universo já saturado. Porém, como tantas outras possibilidades neste filme, ela é rapidamente abandonada.

Scarlett Johansson, como Zora, a protagonista mercenária, é mal aproveitada em um roteiro que a relega ao fundo de uma narrativa fragmentada e emocionalmente nula. Sua missão se entrelaça com uma família aleatória em perigo, um clichê que só dilui a já fraca tensão dramática. A união desses dois núcleos, ao invés de somar, sabota a estrutura. É como se o filme tentasse ser duas coisas ao mesmo tempo: uma aventura de sobrevivência e um thriller corporativo. Falha em ambas.

Visualmente, o filme é uma sombra do que já foi. As cenas de floresta, criadas em estúdio com tecnologia LED, carecem de profundidade e realismo. Até os dinossauros, outrora os astros, são mal utilizados. As breve aparições do T-Rex mutante inspirado no Xenomorfo e a representação quase cômica de algumas espécies (com direito a dinossauro pet ganhando balinha) diluem qualquer senso de perigo, grandiosidade e aventura. Desde os primeiros minutos, você já sabe quem vai viver e quem vai morrer. O Tiranossauro Rex, outrora sinônimo de poder, vira figurante de uma das cenas mais ridículas de toda a franquia.

Divulgação | Universal Pictures

E o que dizer do uso excessivo de product placement? Chocolate, salgadinhos, balinhas… a narrativa é tantas vezes interrompida para mostrar marcas que a sensação é a de estar assistindo a um comercial de duas horas e não a um blockbuster. Logo na primeira cena, a câmera foca deliberadamente numa embalagem de Snickers, que curiosamente "ativa" uma reação narrativa. Não é apenas um plano passageiro, é quase uma vinheta publicitária dentro do filme. É bizarro uma franquia desse tamanho se submeter ao ridículo.

A trilha sonora tenta, sem sucesso, evocar a nostalgia da trilogia original, mas sem contexto emocional, tudo soa vazio. Edwards, que já demonstrou olhar autoral em outros projetos, aqui parece completamente submisso às imposições do estúdio, entregando uma direção genérica e previsível.

O vilão corporativo, que poderia representar a ganância humana diante da criação, é tão genérico quanto esquecível. O roteiro até tenta humanizar alguns personagens em meio ao caos, mas de forma tão apressada que soa artificial.

No fim, Jurassic World: Recomeço não é uma carta de amor aos fãs - é um recibo. Um recibo de que a franquia está perdida, sem identidade, sem emoção, sem risco. O "recomeço" anunciado no título soa mais como um fim disfarçado, um ciclo que insiste em se repetir sem nada a dizer.

A nova aventura do universo dos dinossauros estreia em 2 de julho, exclusivamente nos cinemas.

Avaliação - 4/10

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