CCXP virou reflexo de um mercado onde vantagem e hype valem mais que conteúdo e fã

Divulgação | CCXP

• Por Alisson Santos 

A edição de 2025 da CCXP ficou marcada por uma debandada inédita de grandes estúdios. Gigantes do entretenimento e do streaming — Universal Pictures, Warner Bros., Apple TV+, Marvel Studios, Lucasfilm, Paramount Pictures, Netflix — deixaram de confirmar presença ou simplesmente não trouxeram anúncios de peso. A ausência desse bloco central de players globais não surge do nada; ela aprofunda uma perda de fôlego que já se desenhava nos últimos anos. Em edições anteriores, a presença dessas empresas simbolizava a promessa de novidades exclusivas, painéis obrigatórios e revelações que movimentavam o calendário da cultura pop. Sem elas, a CCXP perde brilho para o público que busca impacto real, e a sensação que se cristaliza é a de que a convenção está lentamente deixando de ser uma vitrine internacional.

Por outro lado, houve recorde de produtoras nacionais no Palco Thunder — um reflexo positivo, especialmente diante do renascimento do nosso cinema. O problema é que o triunfo local não compensa totalmente o vácuo deixado pelos grandes estúdios estrangeiros, e isso afeta diretamente a expectativa geral do evento.

A EXPERIÊNCIA DO PÚBLICO: ENTRE A PRESSÃO E A FRUSTRAÇÃO

Relatos de visitantes e reclamações públicas revelam falhas graves de organização; superlotação, desinformação, filas intermináveis. A experiência de “passar horas esperando para viver algo que dura segundos” virou rotina. Houve quem afirmasse ter enfrentado mais de três horas de fila para uma ativação de cerca de vinte segundos — um descompasso evidente entre promessa e entrega. É verdade que experiências mais imersivas, como a de IT: Bem-Vindos a Derry, se destacaram; mas elas são exceção em um mar de espera, cansaço e frustração.

E isso levanta uma questão desconfortável; a CCXP ainda se sustenta quando o principal produto oferecido ao público parece ser… a fila? Se o evento caminhou para um modelo em que tempo, resistência física e paciência viram moeda de troca, ele se torna automaticamente excludente para uma parcela enorme dos fãs — justamente aqueles que, historicamente, sustentaram a convenção.

Às marcas, sobra pouca reflexão; muitas delas não dialogam com a cultura nerd/geek, não entendem o público e parecem tratar o evento como vitrine obrigatória, não como oportunidade cultural. O resultado é um corredor repleto de ativações de consumo e um esvaziamento da dimensão criativa que sempre diferenciou a CCXP. A sensação é de que a convenção está se tornando uma feira corporativa disfarçada, onde o fã se vê reduzido ao papel de consumidor e nada mais.

O CONTRASTE ENTRE “MERCADO” E “CULTURA”: ONDE FICOU O FANDOM DE RAIZ?

Curiosamente, o que ainda pulsa de maneira autêntica dentro da CCXP é justamente sua parte mais “antiga”: o Artists’ Valley. Entre quadrinistas, ilustradores, criadores independentes e autores que mantêm viva a chama da cultura pop na sua forma mais genuína, o espaço funciona como refúgio. Em meio ao esvaziamento dos estúdios e ao tsunami de ativações corporativas, o Artists’ Valley resiste como o território onde a CCXP ainda parece ser a CCXP.

Divulgação | CCXP

Entretanto, essa sobrevivência ocorre em contraste direto com o gigantismo do restante do evento. A expansão física do pavilhão e o aumento de marcas participantes criam uma ilusão de crescimento — mas a experiência concreta aponta para desgaste, saturação e descompasso. Fãs pagam ingressos caros e não encontram novidades; enfrentam longas filas para experiências mínimas; circulam por corredores que se parecem mais com malls patrocinados do que com uma celebração da cultura geek. O resultado é um ruído incômodo; a CCXP cresceu em tamanho, mas encolheu em significado.

UM OLHAR PESSOAL E O DESCONFORTO DE ESTAR “DO LADO DE DENTRO”

Falo também a partir de um lugar de privilégio. Estou há sete anos na indústria cobrindo eventos; não enfrento filas, tenho acesso a oportunidades que o fã comum jamais tem. E isso me coloca diante de uma percepção amarga; virei parte do problema. A cada edição, vejo mais influenciadores que não dialogam minimamente com o evento sendo trazidos por marcas desconectadas, interessadas apenas na visibilidade do público nerd como nicho comercial.

Então, a pergunta inevitável é; para quem é essa CCXP? Para as marcas que moldam a vitrine ou para o público que sustenta as estruturas, paga caro e recebe pouco? Para os apaixonados por cultura pop ou para empresas que enxergam ali apenas mais um campo de batalha de marketing?

O VEREDITO EM 2025

A CCXP 2025 escancara, talvez mais do que nunca, o dilema de transformar cultura em produto. A saída de estúdios e a naturalização da fila como parte intrínseca do show evidenciam que a convenção se afastou de seu propósito original: celebrar a cultura pop em sua variedade, autenticidade e espírito comunitário.

Para quem busca alcance, visibilidade, gigantismo e marcas de peso, a CCXP ainda tem apelo; é grande, impressionante e serve como palco visual. Mas para quem procura conexão real, pertencimento, profundidade cultural e uma experiência que vá além do frenesi do consumo, a ferida parece profunda — e a distância entre o evento e sua raiz geek cresce a cada ano.

Comentários

  1. Sabrina Gomes10/12/25

    Sem protagonismo e com vários problemas com as atrações. Foi a minha primeira CCXP e eu fiquei bem decepcionada.

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  2. Manoel Assis10/12/25

    CCXP desse ano chata p carambaaaa tudo com filas enormes todos os brindes uma merda poucos painéis interessantes a única parte boa é a artists valley mas vale a pena pagar caro no ingresso só pra isso com tantas feiras de arte gratuitas em sp?

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  3. Laura Lima11/12/25

    Eu jurei que ia sair cheia de brinde da CCXP e no fim saí com um botom e o copo d star wars q fiquei 2hrs na fila. Rindo de desespero.

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  4. Daniel Ortiz11/12/25

    Habla, habla.

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  5. Aline Bento11/12/25

    Tem algumas coisas bastante aleatório, tipo aquele estande do Terra veio podi.

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  6. Ester Maciel11/12/25

    Quando mais o evento cresce, pior ele fica.

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  7. Rodrigo Moreira11/12/25

    A Globo não comprou?

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  8. Sophia Martins11/12/25

    Eu sei que a ccxp sempre foi lotada, isso é óbvio, mas de duas edições pra cá tem sido Absurdo, ano passado eu lembro do ar condicionado não dar conta e de ter hora que eu ficava Parada no lugar em umas partes do evento porque não tinha Como andar por ter gente pra todo lado

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