Crítica | Predador: Terras Selvagens - É um filme que sangra, que erra e que, justamente por isso, parece vivo.
| Divulgação | 20th Century Studios |
• Por Alisson Santos
Predador: Terras Selvagens confirma que Dan Trachtenberg não apenas revitalizou a franquia, mas também a reposicionou dentro de um contexto mais ambicioso — ainda que nem sempre equilibrado. Depois do sucesso de "Predador: A Caçada" e da ousadia experimental de "Predador: Assassino de Assassinos", o diretor retorna com uma produção que entende o legado brutal e instintivo dos Yautja, mas o traduz por meio de uma jornada emocional, quase espiritual, sobre o que significa ser um caçador — e, mais importante, o que significa ser vivo.
A história segue Dek, um Yautja renegado que tenta provar seu valor após ser humilhado por seu próprio clã. Ele parte rumo a Genna, um planeta inóspito onde predadores se alimentam de monstros e monstros se alimentam de medos. Lá, ele encontra Thia, uma androide criada pela Weyland-Yutani — um detalhe que imediatamente liga o filme ao universo Alien — e, juntos, embarcam numa aliança improvável em meio à guerra pela sobrevivência. O vínculo entre ambos é o coração pulsante da narrativa; o guerreiro que quer ser aceito e a máquina que deseja sentir.
Trachtenberg constrói essa jornada com uma estrutura que lembra um videogame. Cada sequência funciona como uma fase que Dek precisa superar; biomas diferentes, novos inimigos, chefes de combate e a constante sensação de progresso. O planeta Genna é, por si só, um tabuleiro letal, com florestas carnívoras, ruínas tecnológicas e criaturas que parecem saídas de um pesadelo biológico. A estética do filme reforça essa sensação de avanço e recompensa, e há algo fascinante na forma como cada batalha simboliza um passo na evolução interior de Dek. Ele não apenas sobrevive — ele muda, aprende e, paradoxalmente, se humaniza.
Visualmente, o filme é deslumbrante. A fotografia trabalha tons ocres e verdes saturados para criar uma atmosfera quase febril, e o design de produção impressiona pela densidade de detalhes. O CGI é funcional na maior parte do tempo, embora em certos momentos pareça excessivamente digital, quebrando a imersão. A trilha sonora de Sarah Schachner e Benjamin Wallfisch é outro ponto alto, transformando o idioma gutural dos Yautja em um elemento musical que pulsa no ritmo das cenas, como se o próprio planeta cantasse a guerra.
| Divulgação | 20th Century Studios |
No entanto, nem tudo funciona com a mesma precisão. Há momentos em que Predador: Terras Selvagens parece seduzido pelo formato dos blockbusters da Marvel — e nem sempre para o bem. Piadas pontuais quebram o clima de tensão, algumas interações entre personagens parecem moldadas para gerar “carisma de grupo” e a montagem final apressa resoluções que mereciam mais fôlego. O filme flerta com o tom de superprodução de estúdio, com planos e falas calculadas para sustentar criação de um universo, e isso enfraquece um pouco a crueza, individualismo que sempre definiu o espírito da franquia Predator.
Ainda assim, a força simbólica de Predador: Terras Selvagens é inegável. Ao humanizar Dek, Trachtenberg oferece um olhar raro sobre os Yautja; eles deixam de ser monstros e passam a representar uma sociedade com hierarquias, dilemas e códigos de honra que refletem — de maneira dolorosa — a nossa própria humanidade. Dek é o filho rejeitado, o guerreiro que falhou, o ser que busca, acima de tudo, pertencimento. E ao lado de Thia, uma criação que luta para ser mais do que uma ferramenta, ele encarna a dualidade central do filme; o contraste entre carne e circuito, instinto e razão.
Predador: Terras Selvagens é um filme que sangra, que erra e que, justamente por isso, parece vivo. Um épico de ação que se recusa a ser apenas mais uma caça — e que, mesmo tropeçando em momentos “Marvelizados”, ainda alcança algo raro; a mistura perfeita de brutalidade, melancolia e evolução. É um verdadeiro renascimento para a saga, e um lembrete de que até o predador mais selvagem pode, no fim das contas, só estar tentando passar de fase.
O filme estreia dia 6 de novembro nos cinemas.
Avaliação - 7/10
Parabéns pela crítica.
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