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• Por Alisson Santos
No ano de 2165, a Ordem Pura ergueu sua supremacia sobre as cinzas do velho mundo e erradicou toda forma de expressão artística, rotulando-a como uma doença mental conhecida como Síndrome Criativa. Qualquer manifestação de criatividade é tratada como um distúrbio perigoso que precisa ser curado – ou exterminado. Mas a arte nunca morre, apenas se esconde.
Nas entranhas de Neon-9, uma cidade ultratecnológica construída sobre ruínas esquecidas, um grupo de insurgentes chamado Codex luta para preservar os últimos vestígios de um passado proibido. Para eles, a arte não é um delírio – é um código, uma linguagem secreta que contém a chave para a verdade oculta do mundo.
No meio disso está Lazaro Kells, um restaurador de dados. A função dele no Departamento de Memória Nacional era simples: apagar. Ele passava os dias deletando registros de arte, literatura e música dos bancos de dados globais, garantindo que nada além da estética racionalista da Ordem Pura permanecesse. Cores vibrantes, traços impulsivos e letras carregadas de emoção eram considerados sintomas perigosos da Síndrome Criativa.
Mas um dia, algo mudou.
Ao restaurar um banco de arquivos confiscado, Lazaro encontrou uma imagem corrompida. Quando a recuperou, um quadro antigo emergiu na tela: Guernica, de Pablo Picasso. Ele nunca tinha visto nada parecido. O caos das figuras distorcidas, o horror estampado em cada traço... Mas não era apenas arte. Havia um código oculto na pintura. Ao decifrá-lo, coordenadas misteriosas surgiram. Elas apontavam para um local subterrâneo que não constava em nenhum mapa oficial. Antes que pudesse entender o que aquilo significava, os alarmes dispararam. A Polícia Cultural havia detectado a anomalia. Lazaro não teve tempo para pensar. Com o código gravado na mente, fugiu para as sombras, sem saber que acabara de abrir a porta para a maior conspiração da história.
As coordenadas levaram Lazaro às profundezas de Neon-9, onde encontrou um mercado clandestino escondido entre túneis abandonados. Lá, paredes inteiras estavam cobertas de camadas de tinta acumuladas por gerações. Sobrepostas umas às outras, formavam um mosaico caótico de épocas e estilos.
No centro de um enorme mural, uma frase rabiscada à pressa:
"A arte é a única memória verdadeira."
Foi ali que ele conheceu Nyx, uma grafiteira e líder do Codex.
Após uma longa conversa, Nyx explicou a verdade:
"A Ordem Pura não erradicou a arte por medo do caos. Eles erradicaram porque a arte é uma linguagem, um código ancestral que contém verdades que o governo não pode permitir que sejam conhecidas. Cada pincelada, cada tom e cada melodia escondem fragmentos de uma mensagem que atravessa séculos. Se alguém pudesse juntar todas as peças, o véu sobre a maior mentira da história seria rasgado."
Mas antes que pudessem avançar, a base do Codex foi atacada. A Polícia Cultural encontrou-os.
Lazaro e Nyx fugiram para o deserto, onde encontraram os Cronistas, um grupo de anciões que se recusaram a aceitar a doutrinação do governo. Eles possuíam uma coleção secreta de artefatos proibidos: quadros de Basquiat, escritos de Frida Kahlo, grafites de Banksy. Tudo o que o mundo acreditava ter sido apagado, ainda existia, escondido ali.
E então, Lazaro descobriu a verdade mais aterradora de todas:
Os fundadores da Ordem Pura eram artistas. Décadas antes, um grupo de intelectuais tentou criar um novo mundo onde a arte fosse usada para moldar e manipular emoções humanas. Mas o experimento fugiu do controle. As obras começaram a revelar verdades profundas demais, despertando percepções que ameaçavam a estrutura do poder. A única solução foi o apagamento total.
"A Ordem Pura está tentando reescrever a história", disse um dos anciões.
Lazaro sentiu um frio percorrer sua espinha. A Ordem Pura não era apenas um regime de censura — era a própria negação da realidade, uma máquina de reescrita que transformava verdades em delírios e delírios em dogmas. Mas agora ele via com clareza: a arte era a memória do mundo, e quem controlava a memória, controlava o futuro.
Os Cronistas mostraram-lhe algo ainda mais surpreendente. Escondido entre os arquivos proibidos, havia um manifesto antigo, escrito por um dos fundadores da Ordem Pura antes de sua deserção. O documento detalhava como a arte possuía propriedades que iam além da simples expressão: cada obra, se lida corretamente, continha padrões que ativavam áreas adormecidas do cérebro, desbloqueando percepções que permitiam ver a realidade sem os filtros impostos pelo sistema.
"A arte não apenas comunica," explicou Nyx, com os olhos faiscando. "Ela desperta."
Mas antes que pudessem decifrar tudo, o esconderijo dos Cronistas foi comprometido. Drones de patrulha sobrevoavam o deserto, lançando feixes de luz artificial sobre as dunas. Lazaro, Nyx e um pequeno grupo fugiram pelo labirinto subterrâneo, levando consigo um único objeto: um caderno repleto de anotações sobre a última peça do quebra-cabeça. A obra que poderia desmantelar a mentira da Ordem Pura.
Seu nome? A Última Sinfonia de Mozart.
Uma composição proibida, fragmentada e espalhada pelo mundo antes da erradicação. Seu som, diziam os Cronistas, era capaz de "destravar a mente", de romper os grilhões da programação cognitiva imposta pela Ordem.
Mas encontrar suas partes significava entrar nos lugares mais vigiados do planeta: os Arquivos Negativos, os cofres subterrâneos onde a Ordem armazenava o que não podia destruir.
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