#NãoaoGramadoSintético: O discurso é bonito, mas a realidade é outra

Divulgação | Sociedade Esportiva Palmeiras

• Por Alisson Santos 

A recente campanha contra o uso de gramados sintéticos no futebol brasileiro, encabeçada por astros como Neymar, Gerson, Gabigol, Dudu, Philippe Coutinho, Lucas Moura, Thiago Silva, Pablo Vegetti, Alan Patrick e muitos outros jogadores, reacendeu um debate importante sobre a qualidade dos campos no país. No entanto, a crítica à grama artificial esbarra em uma hipocrisia difícil de ignorar: muitos desses mesmos jogadores atuam — ou já atuaram — em clubes cujos gramados naturais mais parecem pastos abandonados do que campos de alto nível.  

A CAMPANHA CONTRA O SINTÉTICO

Atualmente, três estádios do Brasileirão possuem gramado 100% sintético, enquanto outros adotam o modelo híbrido, misturando grama natural e artificial. Para os jogadores, essa tendência é um retrocesso. “Preocupante ver o rumo que o futebol brasileiro está tomando. É um absurdo a gente ter que discutir gramado sintético em nossos campos”, criticam. Eles defendem que o caminho não é substituir a grama natural, mas sim investir para que ela atinja um padrão de excelência.  

O argumento, no papel, faz sentido. Em grandes ligas europeias, os clubes investem pesado na manutenção dos gramados, garantindo uniformidade, boa drenagem e condições ideais para o jogo. No Brasil, a história é diferente. A maioria dos times sofre com gramados irregulares, duros, esburacados e cheios de falhas, o que compromete não apenas a qualidade do espetáculo, mas também a segurança dos atletas.  

A HIPOCRISIA DOS CRÍTICOS

Se a exigência fosse por gramados de alto nível em todo o Brasil, a discussão faria sentido. Mas a realidade é que boa parte desses jogadores atua em campos naturais que são verdadeiras armadilhas para lesões. O Maracanã, por exemplo, frequentemente recebe críticas pela qualidade de seu gramado. São Januário possui um gramado terrível. A Arena da Baixada, do Athletico-PR, foi pioneira no gramado sintético justamente porque, antes disso, a grama natural era um desastre devido ao clima de Curitiba.  

A ironia é que muitos jogadores fazem coro contra o sintético enquanto aceitam jogar em campos naturais em péssimas condições sem a mesma intensidade de protesto. Afinal, exigir qualidade deveria ser um compromisso completo — não apenas uma campanha contra o sintético enquanto se fecha os olhos para a situação lastimável dos gramados naturais.  

INVESTIMENTO É A SOLUÇÃO? 

O argumento central da campanha é correto: se o Brasil quer se consolidar como potência mundial, precisa oferecer condições ideais para seus jogadores. No entanto, enquanto a manutenção dos gramados continuar sendo negligenciada, a discussão sobre sintético versus natural será apenas uma cortina de fumaça para esconder um problema muito maior.  

Se os próprios clubes e federações não investem para garantir um gramado digno, como cobrar dos estádios que adotam o sintético? O Palmeiras, por exemplo, escolheu esse tipo de gramado no Allianz Parque devido à alta demanda do estádio para shows, o que prejudicava o gramado natural. No caso do Athletico-PR, a decisão veio após anos de dificuldades com a grama natural. Ou seja, o sintético não surgiu como um capricho, mas sim como uma resposta a problemas estruturais que ninguém quis resolver.   

O movimento contra o gramado sintético levanta um debate necessário, mas não pode ser seletivo. Se a luta for realmente pela qualidade dos gramados no Brasil, que comece pelos campos de grama natural que estão em estado deplorável. Caso contrário, a campanha se tornará apenas mais um discurso bonito sem aplicação na prática. Afinal, de que adianta protestar contra o sintético enquanto se joga em pastos?

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