Crítica | Pacificador (2° Temporada) - Episódio 7

Divulgação | HBO Max

• Por Alisson Santos 

O sétimo episódio da segunda temporada de Pacificador, intitulado "Como Um Keith na Noite", é a prova de que James Gunn continua a dominar a estranha alquimia que mistura humor, violência, absurdo e melancolia. A história mergulha ainda mais fundo na "dimensão perfeita", o tal mundo em que os nazistas venceram a Segunda Guerra Mundial, e coloca Chris Smith diante de dilemas que revelam tanto sua fragilidade quanto sua eterna contradição; ser um homem que diz amar a paz, mas que só sabe conquistá-la através da morte.

O ponto mais inesperado do episódio está na figura de Auggie Smith alternativo, vivido novamente por Robert Patrick. Se na realidade original ele é um pai abusivo, racista e monstruoso, aqui Gunn nos apresenta uma versão surpreendente; um homem que, em meio ao horror do regime fascista, resolve resistir, mesmo que de forma limitada. Seu discurso sobre lutar apenas contra os monstros que estão à sua frente, porque é o único espaço de controle que tem, ressoa como uma das falas mais fortes de toda a série. A ironia amarga é que ele morre logo em seguida, em uma cena que beira a comédia. Gunn parece zombar da ideia de redenção fácil; até mesmo quando um personagem encontra um caminho para a bondade, esse caminho é abruptamente interrompido.

Enquanto isso, John Cena segue impressionando ao equilibrar carisma e vulnerabilidade. Seu Pacificador finalmente desaba diante do peso das vidas que tirou, e o momento não é tratado como um melodrama previsível, mas como um reflexo cruel da identidade partida do personagem. A cena dele com Harcourt na moto, ao som de uma balada de rock enquanto fogem da polícia, é ao mesmo tempo romântica e irônica, como se o episódio mostrasse que mesmo no caos absoluto ainda é possível encontrar brechas de ternura. O riso e o afeto surgem sempre em contraste com a brutalidade ao redor.

Esse equilíbrio entre sátira e desconforto é talvez a maior ousadia da temporada. Retratar uma sociedade nazista poderia facilmente mergulhar a narrativa em peso sufocante, mas Gunn prefere a via do escárnio; murais de Hitler em prédios da A.R.G.U.S., cópias de Mein Kampf empilhadas como guias escolares e até uma cena em que supremacistas acabam eletrocutados dentro de uma piscina. O humor não elimina a gravidade, mas a torna ainda mais perturbadora, porque nos faz rir onde não deveríamos. É esse desconforto que dá identidade à série, sempre lembrando que não há ordem moral clara no universo de Pacificador.

Divulgação | HBO Max

Ainda assim, o episódio expõe o maior problema estrutural da temporada; o ritmo desigual. Depois de semanas em que parecia andar em círculos, a trama agora corre em velocidade máxima para se encaminhar ao desfecho. Rick Flag Sr., interpretado por Frank Grillo, ainda não teve sua motivação explorada de forma convincente, e a ambiguidade da outra Harcourt pode acabar sem resolução. Keith, ou Capitão Triunfo, por outro lado, emerge como o antagonista mais perigoso ao ser consumido pelo ódio e pela dor da perda, prometendo um confronto inevitável com Chris agora ou até mesmo no futuro.

O caos narrativo, no entanto, é também parte da graça. Gunn continua a povoar o universo de Pacificador com dinâmicas improváveis que funcionam, como os dois Vigilantes que permanecem melhores amigos, a dupla improvável de Leota Adebayo e Mestre Judoca, e até a volta de personagens de outras realidades, lembrando que no multiverso ninguém nunca está realmente fora de cena. O exagero, as piadas nonsense e a trilha sonora grandiosa mantêm a série fiel à sua própria lógica; uma paródia trágica em formato de epopeia de segunda categoria.

No fim, "Como Um Keith na Noite" é um episódio que provoca um riso nervoso. Ele nos lembra que até mesmo nos mundos mais sombrios pode surgir um herói improvável, mas que nem sempre a história o deixa viver. Ele mostra que a comédia pode ser usada como lente para tratar do horror, e que personagens grotescos como Pacificador ainda são capazes de carregar dilemas universais sobre culpa, responsabilidade e a busca por algum sentido em meio ao absurdo. Se a temporada começou devagar, agora corre como se estivesse atrasada para seu próprio clímax. Resta saber se todas as peças jogadas por Gunn conseguirão se encaixar no episódio final. De um jeito ou de outro, o espetáculo já está armado; um circo de sangue, piadas ruins e confissões surpreendentemente tocantes.

O sétimo episódio já está disponível na HBO Max.

Avaliação - 8/10

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