Crítica | Karatê Kid: Lendas - Uma reverência contida ao passado, com um passo hesitante rumo ao futuro.
Divulgação | Sony Pictures |
• Por Alisson Santos
Karatê Kid: Lendas tenta, com coragem e certo desequilíbrio, unir duas gerações de fãs ao colocar lado a lado os ícones Daniel LaRusso (Ralph Macchio) e Sr. Han (Jackie Chan). A proposta é ambiciosa; fundir os mundos do caratê e do kung fu em uma única narrativa, que sirva tanto de ponte nostálgica quanto de plataforma para uma nova geração. Em meio a esse esforço, surge Li Fong (Ben Wang), um jovem imigrante chinês que carrega o peso de uma tragédia familiar e a difícil adaptação ao mundo ocidental.
O filme acerta ao resgatar a essência emocional que marcou os títulos anteriores da franquia; a superação de traumas pessoais, o valor da disciplina e a formação de identidade através da prática marcial. A direção opta por um tom mais leve e cômico, sem abrir mão de momentos dramáticos pontuais, equilibrando-se entre o tradicional e o moderno. A atuação de Ben Wang é carismática e convincente, trazendo frescor à saga, enquanto Chan e Macchio se apoiam no carisma consolidado, mesmo que suas presenças sejam mais simbólicas do que verdadeiramente transformadoras.
A trama, embora previsível, cumpre o que promete; criar um conflito central em torno de um campeonato que funciona como rito de passagem. A dinâmica dos treinamentos com dois mestres tão diferentes é o ponto mais interessante do filme — e, ironicamente, também o mais subexplorado. O roteiro explora, de forma um tanto superficial, as diferenças culturais e filosóficas entre os estilos de luta, como também as tensões que surgem dessas práticas distintas. Há um embate claro entre o método mais rígido e direto do caratê e a fluidez e espiritualidade do kung fu, mas, infelizmente, o longa não dedica tempo suficiente a esse conflito. Ao invés de aprofundar a reflexão sobre como essas filosofias impactam a formação de caráter, o filme opta por um caminho mais simplista, deixando as questões culturais em segundo plano. Em vez de uma verdadeira fusão entre essas duas vertentes, temos apenas um vislumbre delas, sem a ousadia necessária para explorar suas implicações profundas
Divulgação | Sony Pictures |
Outro aspecto que o filme peca, embora previsível, é sua tentativa de agradar à geração mais jovem. Algumas cenas e diálogos soam excessivamente adaptados para um público influenciado pela cultura digital atual, como se o filme temesse perder a conexão com os jovens espectadores. A inserção de elementos de redes sociais e uma música pop contemporânea, embora com boas intenções, acaba tornando-se um pouco forçada. O resultado é que, em momentos chave, o filme parece tentar se provar mais "moderno" do que realmente é, e perde parte da autenticidade que fez a franquia original tão cativante.
Visualmente, Karatê Kid: Lendas é um filme agradável, com uma direção de arte vibrante e bem produzida. As cenas de luta, embora não tão espetaculares quanto algumas dos filmes anteriores da franquia, são ágeis e bem coreografadas. O filme consegue manter o ritmo e garantir que a ação não opte por exageros, mantendo o foco nas relações humanas e no impacto emocional das cenas. O contraste entre o vigor físico das lutas e as cenas mais introspectivas de treinamento oferece uma boa dinâmica, embora por vezes o filme não balanceie essas duas facetas de forma ideal.
No final das contas, Karatê Kid: Lendas não é um marco dentro da franquia, mas cumpre bem o seu papel ao equilibrar homenagem e inovação. Para os fãs mais antigos, o retorno de LaRusso e Sr. Han é uma dádiva, trazendo de volta a magia que fez esses personagens inesquecíveis. Para os mais jovens, é uma introdução acolhedora ao mundo do caratê e do kung fu, ainda que um pouco superficial. Em última análise, Karatê Kid: Lendas é um filme simpático, mas que deixa a desejar quando se trata de explorar mais profundamente as riquezas culturais e filosóficas que poderia abordar.
O filme estreia hoje, 8 de maio, nos cinemas nacionais.
AVALIAÇÃO - 6/10
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