Divulgação | Walt Disney Studios |
• Por Alisson Santos
O novo live-action de Lilo & Stitch tenta navegar as mesmas ondas emocionais do clássico animado de 2002, mas acaba encalhando em sua própria hesitação em abraçar o nonsense que tornou a animação tão especial. Ainda que o coração da história - a ideia de ‘ohana’, ou família que não te abandona - continue pulsando, o filme opta por uma abordagem mais contida, racionalizando o irracional, domesticando o bizarro e, no processo, perdendo parte do seu charme mais selvagem.
A relação entre Lilo e Stitch, que na animação original era turbulenta, caótica e profundamente comovente, aqui se vê rebaixada a uma versão mais genérica. A nova Lilo, embora fofa e funcional, carece da centelha de estranheza e desenvoltura que fazia da personagem uma figura única - uma criança verdadeiramente incompreendida, com acessos de raiva e uma imaginação mórbida. O live-action suaviza essas arestas em favor de algo mais palatável, e o que se perde é a alma complexa da protagonista. Ao aparar as excentricidades de Lilo, o filme perde seu maior trunfo; o contraste sincero entre caos emocional e ternura.
O CGI, felizmente, é funcional. Stitch é convincente em sua aparência e movimentação, equilibrando com sucesso a fofura e o estranhamento que o personagem exige. O mesmo vale para os alienígenas Jumba e Pleakley - e é justamente aqui que a adaptação faz uma escolha que resume seu receio de se entregar ao fantástico.
Na animação original, Jumba e Pleakley mantinham suas formas alienígenas, e tentavam - comicamente - se passar por humanos apenas com roupas terríveis. Pleakley, em especial, era hilário; um alienígena de um olho só vestindo roupas femininas, andando pelas ruas do Havaí com a autoconfiança de um turista confuso. Era absurdo, e por isso mesmo, encantador. No live-action, esses personagens são renderizados por CGI, mas disfarçados em “peles humanas”, interpretadas por Zach Galifianakis e Billy Magnussen. Em entrevista, o diretor comentou: “O humor deles andando pelo Havaí vestidos com esses disfarces terríveis, onde Pleakley ainda tem um olho, é um pouco mais difícil de acreditar em live action.” Entendo o argumento. Mas discordo.
Divulgação | Walt Disney Studios |
Estamos falando de um filme em que um experimento alienígena azul, criado para destruir tudo, cai do céu, é adotado por uma menina órfã, solitária, que é fã do Elvis Presley, e aprende o que é amar no processo. Essa não é uma história que pede realismo. Pelo contrário; ela floresce justamente quando se abandona a lógica e se entrega ao delírio. Reduzir Pleakley a uma caricatura humana é podar uma das camadas mais deliciosamente ridículas do filme original. Por que limitar o absurdo quando ele é o combustível que move tudo?
É louvável que o live-action tente dar mais espaço para Nani, transformando-a numa figura ainda mais tridimensional e sofrida, o que ajuda a destacar as dificuldades reais de uma jovem assumindo a responsabilidade pela irmã mais nova. No entanto, ao redistribuir esse foco emocional, o filme também desequilibra a narrativa central, tornando a relação entre Lilo e Stitch mais funcional do que transformadora.
Lilo & Stitch versão 2025 não é um desastre. Há momentos de ternura, há beleza nas paisagens do Havaí, há até ecos da emoção original. Vai ser um sucesso gigantesco de bilheteria. Mas ao preferir ser “verossímil” dentro de uma fábula alienígena, o filme acaba se tornando mais tímido do que precisava ser. Quando a fantasia tem medo de parecer fantasia, o que resta é um simulacro domesticado da loucura que antes encantava.
O filme estreia nos cinemas em 22 de maio.
Avaliação - 7/10
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