Crítica | O Dia do Chacal (1° temporada) - Suspense elegante entre o clássico e o contemporâneo.

Divulgação | Disney+

• Por Alisson Santos 

Inspirada no influente romance de Frederick Forsyth, O Dia do Chacal retorna às telas, desta vez no formato de série, com uma produção ambiciosa distribuída pela Disney+ no Brasil. Sob a criação de Ronan Bennett e com Eddie Redmayne no papel-título, a série entrega uma primeira temporada sólida, que flerta com o passado do gênero de espionagem ao mesmo tempo que o reinventa com sofisticação e inquietação moral.

Desde os primeiros episódios, a série demonstra uma segurança rara em sua ambientação e estética. A escala global, com locações que saltam de país em país, ajuda a reforçar a dimensão internacional da narrativa. É uma produção que não economiza em detalhes; cada cenário, cada mudança de clima, cada plano bem estudado da fotografia compõe uma atmosfera meticulosamente construída. O visual luxuoso e as escolhas de câmera não são apenas bonitos — são narrativos.

Mas é no personagem central que a série realmente encontra sua espinha dorsal. Redmayne entrega uma performance que caminha na corda bamba entre o gentil e o ameaçador. Seu Chacal não é um vilão caricato, mas um homem enigmático, frio e eficiente, cuja calma esconde uma capacidade letal. É um antagonista tão bem construído que, paradoxalmente, se torna o verdadeiro protagonista — e talvez até o único personagem por quem o espectador realmente torce. O fascínio por ele é inquietante; ele é perigoso, sim, mas está cercado por uma moralidade fluida que desafia os limites do bem e do mal.

Essa ambiguidade moral é uma das maiores virtudes da série. Ao transformar um assassino de aluguel num personagem central que constantemente desafia o espectador a julgá-lo, O Dia do Chacal se destaca num cenário saturado de histórias previsíveis. O dilema ético é introduzido de maneira incisiva; e se o alvo for alguém cuja morte parece, de alguma forma, justificável? Essa tensão é ampliada com o núcleo familiar do protagonista, que adiciona camadas inesperadas de drama e tensão psicológica.

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Por outro lado, o núcleo dos "mocinhos", representado pela investigadora Bianca (vivida por Lashana Lynch), sofre de uma certa inconsistência. Embora a personagem não seja escrita como estúpida ou caricatural, suas decisões são tão imprudentes que comprometem o realismo que a série busca construir. O roteiro falha em desenvolver adequadamente esse lado da narrativa, e o contraste entre o brilhantismo do Chacal e a desorganização dos investigadores é gritante — a ponto de, talvez sem querer, reforçar ainda mais a simpatia pelo vilão.

Ainda assim, a série compensa essas falhas com direção segura, ritmo envolvente e uma proposta visual que se equilibra entre o clássico e o moderno. Há ecos da trilogia Bourne, referências elegantes ao primeiro Missão: Impossível e até uma leveza contemporânea que evita o exagero. A direção intercala momentos de tensão sufocante com pausas contemplativas, sem jamais perder o fio da narrativa. Em alguns instantes, parece até um thriller político disfarçado de drama familiar, e isso funciona surpreendentemente bem.

O episódio piloto, com sua cena de atentado, é um marco de execução técnica e já estabelece o padrão elevado que a série tenta sustentar. E embora nem todos os episódios mantenham o mesmo nível de excelência, há um ganho de fôlego ao longo da temporada. A série não se esgota cedo. Ao contrário; ela amadurece, brinca com suas peças e desafia o espectador a encontrar as próximas jogadas.

O Dia do Chacal é um thriller de espionagem refinado, que respeita suas raízes literárias sem abrir mão da modernidade. Com uma atuação magnética de Eddie Redmayne, uma estética apurada e dilemas morais bem arquitetados, a série encontra um lugar próprio no gênero. Não é perfeita — principalmente no que tange ao núcleo investigativo —, mas é elegante, intrigante e, acima de tudo, cativante. Uma estreia promissora que honra a obra original ao mesmo tempo que a atualiza com inteligência.

A série está disponível no Disney+.

Avaliação - 9/10

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