Divulgação | Universal Pictures |
• Por Alisson Santos
Três anos depois do sucesso inesperado de O Telefone Preto (2022), Scott Derrickson retorna a um universo que parecia, à primeira vista, ter encerrado seu ciclo. O vilão — o enigmático e perturbador "Sequestrador" de Ethan Hawke — estava morto. O trauma das crianças sequestradas, resolvido. Mas O Telefone Preto 2 mostra que a morte, como diz o próprio filme, é “apenas uma palavra”. O medo, por sua vez, é o começo de algo muito maior.
O novo capítulo não é apenas uma continuação; é uma expansão emocional e estética de um trauma coletivo. Derrickson e o roteirista C. Robert Cargill transformam o pós-terror psicológico em matéria-prima para um drama de amadurecimento e redenção. Se o primeiro filme falava sobre sobrevivência, este fala sobre reconstrução. E o faz sem perder o pulso do horror — aquele que habita as frestas entre o real e o sobrenatural.
Quando reencontramos Finney (Mason Thames) e Gwen (Madeleine McGraw), o tempo passou, mas o medo não. Três anos após o embate mortal com o Sequestrador, os irmãos vivem as sequelas invisíveis do horror; Finney agora é um jovem que tenta sufocar a raiva herdada do pai e a culpa por ter sobrevivido, enquanto Gwen vê seus dons psíquicos — antes bênção e salvação — se transformarem em maldição.
O roteiro escolhe um cenário novo para reacender o pesadelo; o acampamento juvenil Alpine Lake. A paisagem montanhosa e fria do Colorado serve como palco para um novo ciclo de aparições, alucinações e fantasmas — literais e simbólicos. Lá, o passado de Finney volta a se manifestar através do telefone preto, que mais uma vez toca, desta vez não apenas como uma lembrança, mas como um eco de algo que insiste em não morrer.
Um dos maiores triunfos de O Telefone Preto 2 está em como transforma trauma em personagem. Derrickson não está interessado em sustos fáceis, mas em como o medo se instala e corrói lentamente. O terror aqui é psicológico e orgânico, e se manifesta em gestos, silêncios e sonhos. Gwen, especialmente, torna-se o centro emocional da história — uma jovem médium dividida entre fé e desespero, esperança e condenação.
Divulgação | Universal Pictures |
Madeleine McGraw entrega uma atuação notável, mais madura e dolorosa que no original. Sua personagem é o coração pulsante de um filme que entende que crescer após o horror é tão aterrorizante quanto sobreviver a ele. Mason Thames, por sua vez, encontra em Finney um arco de autoconhecimento; o garoto traumatizado agora luta para não repetir o ciclo de violência e medo herdado da própria família.
Ethan Hawke, mesmo morto, domina o filme como uma sombra. Sua figura mascarada é agora uma presença espiritual, um mito que transcende a carne. A direção de Derrickson faz uso desse espectro para criar uma tensão quase metafísica; o Sequestrador é o símbolo do trauma que persiste, da violência que não se apaga mesmo após a morte do agressor.
As cenas envolvendo o fantasma do vilão são magistralmente construídas, evocando o pavor estilizado de "A Hora do Pesadelo". Derrickson presta homenagem ao terror dos anos 80 sem cair na armadilha da nostalgia superficial. O resultado é um equilíbrio entre brutalidade e poesia — um terror que vibra no limiar entre o realismo trágico e o sonho febril.
Visualmente, o filme é deslumbrante e opressivo. As montanhas cobertas de neve e o isolamento do acampamento criam uma estética quase gótica, onde a brancura da paisagem contrasta com o sangue e as alucinações. A fotografia, assinada por Brett Jutkiewicz (Morte Morte Morte), reforça o senso de aprisionamento emocional, enquanto a trilha sonora de Mark Korven mistura sintetizadores sombrios com coros espectrais — uma combinação que potencializa o clima de terror psicológico.
Assim, O Telefone Preto 2 se revela uma das continuações mais bem-sucedidas do gênero nos últimos anos — superior ao original em ambição e profundidade emocional. Derrickson constrói uma obra que vai além do susto e da violência, mergulhando no abismo humano com empatia e estilo. Se o primeiro filme era sobre sobreviver ao monstro, este é sobre aprender a viver depois dele.
O filme estreia em 16 de outubro nos cinemas.
Avaliação - 8/10
Tô bem ansiosa.
ResponderExcluirVi bastante elogios dos críticos/influencers. Gostei muito do primeiro filme e espero que esse seja tão bom quanto.
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