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• Por Alisson Santos
Classificação original: ULTRA CONFIDENCIAL / Exército Francês - Arquivo 42-B / desclassificado em 1991
CONTEXTO HISTÓRICO:
Durante a Batalha de Verdun (1916), mais de 700.000 soldados foram mortos ou feridos. Os bombardeios intensos destruíram a geografia da região, soterrando tropas inteiras em trincheiras. Após o armistício, relatos de sons subterrâneos surgiram; ruídos de botas marchando, baionetas arranhando pedra e, mais aterrador, vozes chamando por socorro. Quatro anos depois, um engenheiro militar é enviado para investigar.
RELATO EXPANDIDO:
“Se existe um inferno na Terra, ele tem cheiro de terra molhada, pólvora antiga... e silêncio partido por sussurros.”
- Trecho da carta nunca enviada por Augustin Lemoine à esposa
18 de setembro de 1922 - Verdun, França
Augustin Lemoine era um homem cético. Engenheiro de minas e ex-combatente, acreditava em estruturas, em lógica, em mapas. Não acreditava em fantasmas. Ao ser enviado para investigar anomalias acústicas na área da Trincheira das Baionetas, ele pensou que se tratava de lençóis freáticos em movimento ou desmoronamentos subterrâneos. Chegou à noite, sozinho, armado apenas com uma lanterna a óleo, um caderno e um sismógrafo rudimentar.
Mas o que encontrou ali desafiava não apenas a ciência – desafiava a própria sanidade.
Foi então que a lógica começou a ruir. Primeiro, em detalhes quase imperceptíveis. O som de seus próprios passos demorando a morrer, como se o eco se recusasse a terminar. O ar, denso demais, parecendo carregar algo além de umidade e mofo – como se contivesse memória. As paredes do túnel tinham cheiro. Não de pedra, nem de terra. Mas de algo velho, esquecido... e vivo.
No escuro, mesmo com a lanterna acesa, a realidade parecia hesitar. E logo, ela cedeu.
DIA 1: A TERRA RESPIRA
Lemoine desceu por uma entrada colapsada entre colinas calcinadas. O ar ficou mais frio a cada metro. Quando tocou o solo da galeria principal, o sismógrafo registrou pulsos regulares, como batimentos cardíacos gigantes sob a terra. Mas não eram batimentos. Eram passos.
Nas paredes de barro endurecido, havia marcas de unha. Algumas frescas. Ele encontrou capacetes com nomes ainda legíveis, fardas apodrecidas grudadas nas rochas. Mas os corpos... tinham sumido.
Ele ficou para ouvir. E ouviu.
Marchas arrastadas, cantos militares ditos por vozes sem garganta. Algumas frases eram proferidas ao contrário. E uma palavra se repetia em francês e alemão, incessante, num coro de vozes podres:
“Abaixo... abaixo... abaixo...”
DIA 2: O BATISMO DE LAMA
Durante a noite, ele sonhou com um homem sem rosto segurando um fuzil derretido. O homem gritava sem boca, e de seu peito saía uma fumaça preta que se enroscava no teto da trincheira como uma serpente viva.
Ao acordar, estava coberto por lama, mesmo tendo dormido sobre pedras secas. Sua lanterna estava acesa – mas virada para baixo, iluminando uma frase escrita no chão com ossos de rato:
“VOCÊ JÁ ESTÁ CONOSCO.”
Ele tentou subir de volta, mas a entrada estava bloqueada. Não por pedras, mas por barro respirando. Cada vez que ele escavava, a lama voltava a fechar como carne cicatrizando. Estava preso.
DIA 3: O BATISMO DE SANGUE
Encontrou uma galeria lateral, onde dezenas de baionetas ainda emergiam do chão. Algumas se moviam, levemente. Quando tentou tocar uma, uma mão apodrecida o agarrou por baixo do solo e sussurrou em seu ouvido: “Deixe-nos entrar.”
Não fugiu. Não conseguia. As paredes estavam pulsando – literalmente. Tinham batimentos. Ouviam-se soluços vindos do barro. Às vezes, vozes de crianças.
No fim da galeria, viu os Marchadores.
Homens sem olhos, corpos meio derretidos, uniformes colados à carne como se tivessem sido fundidos com o solo. Marchavam em círculos perfeitos, sem fim. Suas cabeças estalavam ao girar, olhando todos para ele ao mesmo tempo.
Eram soldados alemães, franceses, ingleses. Todos juntos. Todos mortos. Mas unidos por um tormento comum; eles morreram com medo. E a terra absorveu esse medo como um vírus.
Lemoine tentou gritar. Mas não havia mais voz dentro dele.
Três dias depois, foi encontrado a quilômetros dali, andando nu por uma estrada de terra, com as mãos ensanguentadas e os olhos virados. Ao ser levado ao hospital militar, escreveu compulsivamente durante horas. Tudo em espiral. Tudo em círculos. O mesmo símbolo; um labirinto espelhado, como se os túneis tivessem mente própria.
Seus últimos escritos diziam:
“Eles não sabem que estão mortos. Continuam marchando... até que alguém os liberte. E agora, sou eu quem ouve os tambores.”
Augustin morreu em 1937. Seus pulmões estavam cheios de lama petrificada.
NOTAS ADICIONAIS DO DOSSIÊ:
- Sismógrafos modernos ainda registram pulsos rítmicos na área.
- Nenhum animal entra na Trincheira das Baionetas.
- Equipamentos deixados ali desaparecem ou retornam... corroídos.
- Testemunhas relatam ouvir comandos militares em noites sem vento.
VEREDITO FINAL DO EXÉRCITO FRANCÊS, 1991:
“Terreno instável. Área interditada permanentemente. Causa: colapso subterrâneo e risco psicológico.”
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