Crítica | Thunderbolts* - É uma das obras mais corajosas da Marvel, porque tem a audácia de desacelerar e ouvir o silêncio dos seus personagens.

Divulgação | Marvel Studios 

• Por Alisson Santos

Thunderbolts* representa uma ousada reinvenção do Universo Cinematográfico Marvel, afastando-se do espetáculo tradicional dos super-heróis para mergulhar em uma narrativa mais sombria, emocionalmente carregada e, acima de tudo, humana. Dirigido por Jake Schreier, com roteiro de Lee Sung Jin e Joanna Calo, o filme abraça o que há de mais fraturado nos personagens do UCM; suas falhas, seus traumas e o peso de suas decisões passadas.

A trama reúne um grupo de anti-heróis que, à primeira vista, parecem mais descartáveis do que heróicos. Yelena Belova, Bucky Barnes, Guardião Vermelho, Agente Americano, Fantasma e Treinadora são figuras marcadas por erros, cicatrizes emocionais e uma constante luta por redenção. A missão que lhes é atribuída por Valentina Allegra de Fontaine, interpretada com calculada frieza por Julia Louis-Dreyfus, é menos uma chance de heroísmo e mais uma sentença disfarçada de patriotismo. São, de certa forma, peões de um sistema que lucra com a instabilidade emocional de seus soldados.

Florence Pugh oferece aqui uma de suas performances mais densas dentro do UCM. Sua Yelena carrega a dor de quem já perdeu tudo e ainda assim precisa manter o controle. Há uma vulnerabilidade constante em seu olhar, como se o peso do mundo estivesse sempre prestes a esmagá-la. Ao seu lado, David Harbour surpreende ao conferir ao Guardião Vermelho uma humanidade crua, ele não é mais a caricatura do herói comunista, mas sim um homem que luta para provar que ainda tem algum valor, mesmo que precise morrer por isso.

A direção de Schreier se destaca por evitar o óbvio. O filme é visualmente mais contido do que outros projetos da Marvel, e essa sobriedade estética contribui para um tom de realismo que combina com a narrativa introspectiva. A fotografia evita o brilho exagerado das cenas típicas de batalha, preferindo enquadramentos mais íntimos e uma paleta de cores dessaturada, que reflete o estado emocional dos personagens. A trilha sonora, assinada pela banda experimental Son Lux, é um destaque à parte; em vez de empolgar, ela inquieta, serve como espelho das tensões internas de cada integrante da equipe.

Divulgação | Marvel Studios

Um elemento que merece atenção especial é a figura do antagonista, o Sentinela, vivido por Lewis Pullman. Longe de ser um vilão unidimensional, ele é um espelho trágico dos protagonistas; um ser atormentado por sua própria destruição interna, cujo poder quase divino o afasta cada vez mais de sua humanidade. Sua presença no filme não apenas desafia fisicamente a equipe, mas os força a confrontar aquilo que eles próprios tentam enterrar - suas inseguranças, arrependimentos e a dolorosa consciência de que talvez não sejam dignos de salvação.

Thunderbolts* não é um filme de ação no sentido convencional. As lutas existem, mas são quase sempre moldadas pelo contexto emocional dos personagens. Cada golpe carrega significado. Cada hesitação, cada olhar trocado entre os membros da equipe, reforça a ideia de que eles não são soldados, mas sobreviventes. E, por isso mesmo, são também os únicos capazes de enfrentar uma ameaça que transcende o físico; a ameaça de não ter mais nada pelo que lutar.

Em resumo, Thunderbolts* é uma das obras mais corajosas da Marvel. Não porque reinventa o gênero, mas porque tem a audácia de desacelerar e ouvir o silêncio dos seus personagens. É um filme sobre feridas abertas, sobre pessoas quebradas tentando se reconstruir em meio ao caos. Pode não agradar a todos os fãs que esperam piadas em ritmo acelerado e batalhas apoteóticas a cada dez minutos. Mas para quem busca uma experiência mais profunda, melancólica e humana, Thunderbolts* é, sem dúvida, um dos pontos altos desta nova fase do UCM.

Há duas cenas pós-créditos, uma serve para descontrair e a outra indica acontecimentos futuros que prometem mudar tudo. O filme estreia em 1° de maio nos cinemas nacionais.

AVALIAÇÃO - 7/10

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