Divulgação | Sony Pictures |
• Por Alisson Santos
Por mais irônico que pareça, o maior mistério de Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado não é a identidade do assassino com um gancho em punho, mas sim por que alguém achou que essa franquia precisava mesmo de mais um suspiro. Dirigido por Jennifer Kaytin Robinson, o filme tenta ressuscitar o espírito slasher dos anos 90, mas acaba entregando algo mais próximo de um episódio ruim de série teen do que de um revival digno.
A proposta era clara; misturar o apelo nostálgico dos fãs do original de 1997 com uma nova geração de personagens. O problema? Nem um lado nem o outro funciona. O retorno de Jennifer Love Hewitt e Freddie Prinze Jr. soa mais como um aceno preguiçoso do que uma homenagem. Julie virou uma professora de psicologia que fala como se tivesse sido escrita por um app de frases motivacionais, enquanto Ray aparece como um bartender amargurado, inserido em cenas que parecem ter sido arrancadas de um rascunho de roteiro rejeitado.
Os novos personagens, encabeçados por Madeline Cline e Chase Sui Wonders, são tão desenvolvidos quanto manequins de vitrine. É uma juventude apática, montada com os clichês de sempre, sem tensão real, sem carisma e, talvez o mais grave, sem impacto. A fórmula do “acidente, segredo e vingança” continua lá, mas sem nenhuma reinvenção que justifique sua existência.
Jennifer Robinson, conhecida por sua veia cômica e pelo roteiro em Thor: Amor e Trovão, parece envergonhada de estar comandando um slasher. O filme flerta com o humor em momentos errados e nunca abraça o horror de verdade. A montagem é desastrosa, incapaz de sustentar suspense ou criar ritmo. A fotografia, clara demais para um filme que deveria mergulhar nas sombras da culpa e do medo, é mais adequada para um comercial de roupas do que para o retorno de um assassino icônico.
Divulgação | Sony Pictures |
Há até ideias interessantes, como uma crítica velada à gentrificação e uma tentativa de explorar a memória coletiva de um trauma escondido, tudo isso abandonado rapidamente em favor de mortes genéricas e diálogos descartáveis. Até o gancho, símbolo do assassino, parece ter sido reciclado sem vontade.
O final, no entanto, merece destaque. Mas não pelos motivos certos. É desastroso. Desconexo. Quase cômico. Tão absurdo que, durante a sessão, era possível ouvir risos constrangidos, resmungos e o tradicional “é isso mesmo?” sussurrado entre os assentos. A sensação é de que os últimos vinte minutos foram dirigidos por outra equipe, ou talvez por ninguém.
Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado falha como reinvenção e decepciona como sequência. É uma homenagem sem alma, uma atualização sem energia, um filme que quer tudo e não consegue nada. No fim, resta apenas a certeza de que, se alguém souber o que fizeram com essa franquia, por favor, conte para o público antes que ela seja ressuscitada de novo.
O filme já está disponível nos cinemas.
Avaliação - 3/10
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