Crítica | Alien: Earth - Episódio 8: Os Monstros de Verdade

Divulgação | Disney+

• Por Alisson Santos 

O oitavo episódio de Alien: Earth, intitulado "Os Monstros de Verdade", chega como a síntese perfeita de tudo o que a primeira temporada construiu; um híbrido de horror corporal, crítica social e reflexão filosófica sobre o que significa ser humano em um universo dominado pelo medo e pela ambição desmedida. Noah Hawley, ao lado de sua equipe, entrega um capítulo que mantém o DNA da franquia Alien, mas também a subverte, ampliando sua simbologia para territórios mais inquietantes. A sensação que paira do início ao fim é a de que não há inocentes neste jogo, todos os envolvidos, sejam cientistas, crianças, executivos ou criaturas alienígenas, carregam nas mãos o peso de escolhas moralmente comprometidas.

A técnica do episódio é precisa em sua evocação do terror clássico. O xenomorfo espreitando pela selva e cheirando o cadáver de Arthur retoma de imediato a aura de pesadelo instaurada em 1979, mas desta vez o horror não está apenas na criatura em si, e sim na constatação de que a ciência humana abriu as portas para uma monstruosidade ainda maior. A direção de Dana Gonzales reforça isso ao apostar em atmosferas sufocantes, luzes estroboscópicas e a constante sensação de que a fronteira entre a vida e a morte foi violada de forma irreversível. Arthur, reduzido a um corpo vazio numa praia, é menos uma vítima isolada do que um símbolo da falência ética que atravessa toda a temporada.

O título "Os Monstros de Verdade" ganha aqui uma dimensão múltipla e perturbadora. Há o monstro óbvio, o xenomorfo, predador perfeito e encarnação do terror biológico. Mas há também Dame Sylvia, cuja maneira calculada de lidar com os túmulos das crianças revela uma cumplicidade mascarada de luto, quase uma liturgia de autojustificação. Kavalier surge como a figura mais abertamente monstruosa em sua arrogância sem freios, uma caricatura messiânica de cientista que insiste em manipular forças incompreensíveis, mesmo que tudo já tenha ruído ao seu redor. Os outros espécimes alienígenas, soltos e entregues à própria natureza, funcionam menos como vilões e mais como espelhos de um sistema de exploração, lembrando ao espectador que a verdadeira monstruosidade não está naquilo que é alheio ao humano, mas no modo como o humano insiste em capturar, domesticar e subjugar.

Ainda assim, é nos Garotos Perdidos que reside a camada mais densa de simbolismo. Descobrindo-se mortos e renascidos, eles encarnam a essência do mito de Frankenstein; corpos ressuscitados por uma centelha artificial roubada dos deuses, destinados a viver no limiar entre a inocência perdida e a violência adquirida. Sua aliança com Wendy e com os xenomorfos é a coroação dessa hibridização, e as cenas em que torturam empregados da corporação com indiferença são o ponto em que o espectador percebe que a linha entre vítima e algoz foi definitivamente apagada. São crianças, mas também fantasmas, experimentos e guerreiros; são, em resumo, os monstros mais humanos de todos.

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O episódio não se contenta em apontar para a velha lição de que "nós éramos os monstros o tempo todo". Ele vai além, sugerindo que a monstruosidade é difusa, compartilhada, inevitável. Não existe mais pureza, apenas graus distintos de corrupção. Ao escolher "Animal", do Pearl Jam, para encerrar a temporada, Hawley reforça essa fusão entre a animalidade e a humanidade corrompida. O grunge entra como trilha de uma fúria que não busca mais redenção, mas sim a afirmação de um novo tipo de coletividade; a dos abandonados, dos híbridos, dos esquecidos. É como se a música gritasse que, ao lado das feras, talvez exista mais autenticidade do que no seio das corporações e de seus cientistas messiânicos.

O desfecho é ambíguo, entre o cliffhanger e a conclusão. A chegada iminente das forças da Yutani abre espaço para uma continuação, mas a união dos Garotos Perdidos sob a liderança de Wendy também poderia servir como encerramento satisfatório. Seja como for, o episódio tem coragem de não oferecer respostas fáceis. O saldo da temporada é o de uma obra ambiciosa, que respeita o legado da franquia, mas não tem medo de confrontar suas próprias mitologias.

Alien: Earth estreia como uma das leituras mais ousadas e densas da saga desde 1979, mantendo-se fiel à estética do terror, mas transformando-o em espelho de dilemas contemporâneos sobre ciência, poder e identidade. Se os monstros são múltiplos, é porque nós também o somos. E talvez seja exatamente aí que a série encontra sua força. É uma temporada de coragem estética e simbólica por lembrar que o verdadeiro terror nunca esteve apenas nas criaturas do espaço, mas no modo como lidamos com aquilo que não podemos controlar.

O último episódio da primeira temporada já está disponível no Disney+.

Avaliação final - 8/10

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