Crítica | Alien: Earth - Episódio 5: No Espaço, Ninguém…

Divulgação | Disney+

• Por Alisson Santos 

O quinto episódio de Alien: Earth, "No Espaço, Ninguém…", é mais do que um simples capítulo da temporada; é um marco. Ao mesmo tempo em que revisita o espírito do clássico de Ridley Scott, ele consegue dar novos contornos ao terror da franquia, equilibrando reverência ao passado e ousadia narrativa. O resultado é um episódio que prende pela tensão constante e pelo peso emocional, funcionando tanto como homenagem quanto como peça fundamental para a trama.

Noah Hawley constrói o episódio com a precisão de quem entende que o verdadeiro horror nasce do silêncio, da espera e do confinamento. A atmosfera lembra diretamente o jogo Alien: Isolation; corredores estreitos, iluminação rarefeita, e a sensação sufocante de que a ameaça está sempre próxima, mesmo quando não a vemos. O episódio não busca o susto fácil, mas sim aquela ansiedade crescente que torna cada movimento arriscado, cada decisão potencialmente fatal.

O mérito maior está em não se limitar à estética do terror. "No Espaço, Ninguém..." trabalha símbolos que já fazem parte da essência da franquia; o corpo como território invadido, a ciência como ferramenta de poder e a ganância como força que abre espaço para o desastre. O xenomorfo é a criatura que encarna o inimaginável, mas a série deixa claro que os humanos são os verdadeiros responsáveis por perpetuar a tragédia. A sabotagem da Maginot não é apenas um acidente, é um reflexo das mesmas ambições que sempre estiveram no centro do universo Alien.

No centro desse turbilhão está Morrow, interpretado magistralmente por Babou Ceesay. É nele que o episódio encontra sua poesia mais amarga. Um homem marcado pela ausência da filha, pela culpa e pela tentativa desesperada de transformar dor em propósito. Sua jornada ecoa a de Ripley, mas segue um caminho próprio; em vez de redenção, vemos obstinação e frieza, um homem que tenta manter o controle mesmo quando já foi corroído por dentro.

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A decisão de estruturar o episódio como um flashback, no meio da temporada, também mostra maturidade narrativa. Em vez de enfraquecer o ritmo, a escolha fortalece a trama, oferecendo novos significados para o que já vimos e reposicionando antagonistas sem perder a coesão. O impacto é tanto emocional quanto estrutural, reforçando a sensação de que cada peça tem seu lugar no tabuleiro.

Há momentos em que o episódio parece suspenso entre dois tempos; o passado mítico do primeiro Alien e o presente de Earth. Esse deslocamento cria uma ironia trágica. Sabemos, de antemão, que cada decisão levará à ruína. Sabemos que o ciclo de imprudência, ambição e silêncio repetirá sua dança fatal. Ainda assim, a narrativa nos prende, como se estivéssemos assistindo a uma tragédia grega; não importa o quanto gritamos, os personagens continuarão marchando rumo ao abismo.

E é aí que “No Espaço, Ninguém…” revela sua grandeza. Não se trata apenas de suspense ou nostalgia, mas de uma meditação sobre destino e culpa. Sobre como a escuridão do espaço exterior sempre encontra eco na escuridão interior dos homens. O episódio é um espelho distorcido, que devolve ao público a imagem de uma humanidade corroída, incapaz de aprender com seus próprios erros.

O desfecho, embalado pelo peso melancólico de Cherub Rock, dos Smashing Pumpkins, não é apenas um “needle drop” estiloso, mas uma síntese da experiência; um grito de rebeldia afogado em arrependimento, uma melodia que mascara a tragédia inevitável. O rock grunge torna-se trilha para a revelação de que, no universo Alien, não há vencedores — apenas sobreviventes temporários, carregando cicatrizes que são tanto físicas quanto espirituais.

No balanço, o quinto episódio de Alien: Earth não é apenas bom. É espetacular, um exercício de terror poético que honra o legado de Ridley Scott ao mesmo tempo em que inscreve novas linhas na mitologia. Um lembrete brutal e belo de que, no espaço, ninguém pode ouvir seus gritos — mas todos podem sentir o peso do silêncio.

O quinto episódio já está disponível no Disney+.

Avaliação - 10/10

Comentários

  1. Se alguém não gosta dessa série depois desse 5° episódio é larga mão, a série só melhora.

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  2. Ótimo episódio.

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  3. Um primor. Melhor do que muitos filmes da franquia.

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