Crítica | Invocação do Mal 4: O Último Ritual - É menos um capítulo aterrorizante e mais um epílogo sentimental.

Divulgação | Warner Bros. Pictures

• Por Alisson Santos

Chegar ao quarto capítulo de uma das franquias de terror mais bem-sucedidas do século XXI traz consigo uma expectativa natural; o público deseja sustos memoráveis, atmosfera sufocante e a sensação de estar diante de algo que justifique a continuidade dessa mitologia. No entanto, Invocação do Mal 4: O Último Ritual entrega uma despedida agridoce, mais preocupada em encerrar o arco emocional de Ed e Lorraine Warren do que em oferecer o terror visceral que consagrou a saga.

Dirigido por Michael Chaves, o longa se passa em 1986, momento em que o casal de investigadores já demonstra sinais de desgaste. Ed (Patrick Wilson) sofre com problemas de saúde e Lorraine (Vera Farmiga) carrega o peso espiritual de décadas lidando com forças obscuras. Há uma melancolia interessante em ver esses personagens contemplando a aposentadoria, cientes de que talvez o mal não se aposente junto com eles. É nesse ponto que o filme encontra sua maior força; o drama.

O ponto de partida do terror é o famoso caso da família Smurl, assombrada por um espelho amaldiçoado na Pensilvânia. Paralelamente, vemos Judy (Mia Tomlinson), agora adulta, tentando construir uma vida com Tony (Ben Hardy), enquanto ainda lida com a sombra das experiências demoníacas que a cercaram desde a infância. No papel, trata-se de um cenário ideal para encerrar a série; investigação clássica, tensão familiar e reflexões sobre legado. Na prática, porém, o roteiro não consegue dar unidade ao material. São muitas tramas simultâneas; o romance de Judy e Tony, os dilemas da aposentadoria de Ed e Lorraine, a ligação pessoal do espelho com os Warren, e ainda discussões sobre ceticismo diante do paranormal. Tudo isso gera uma narrativa inchada, com 2 horas e 15 minutos que parecem alongados além da conta. O maior sintoma desse desequilíbrio é o atraso na chegada dos Warren ao centro da ação, só por volta da metade do filme é que o casal se envolve diretamente com o caso Smurl.

Os problemas se agravam com a direção de Chaves, que confirma as limitações já vistas em Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio. Sua câmera carece de estilo próprio e de um senso de ritmo que dê vida às cenas de assombro. A ausência de James Wan pesa, e muito; os dois primeiros filmes eram repletos de momentos que sabiam dosar silêncio e explosão, criando cenas genuinamente aterrorizantes. Ainda assim, é inegável que O Último Ritual conserva lampejos daquilo que fez da franquia um fenômeno. A construção de algumas cenas mostra habilidade no uso de sombras e no recurso da repetição para criar suspense. Um dos melhores momentos é a sequência em que Judy se perde em um quarto de espelhos, onde a espera pelo susto se torna mais angustiante do que o próprio jump scare. O problema é que a fórmula se repete até perder a força; à medida que o espectador se acostuma à mecânica, a atmosfera perde o impacto. Visualmente, há referências claras a clássicos como Carrie, O Chamado e O Iluminado, o que dá certo charme, mas reforça a sensação de déjà vu.

Divulgação | Warner Bros. Pictures

O que sustenta a experiência, mais uma vez, é a dupla Patrick Wilson e Vera Farmiga. Sua química permanece intacta, trazendo humanidade a personagens que poderiam facilmente se perder na caricatura. O amor conjugal, a fé e o senso de missão são transmitidos com sinceridade, tornando crível a relação dos Warren mesmo quando a narrativa tropeça. Tomlinson e Hardy também entregam boas performances, especialmente no arco que ressalta a ligação entre mãe e filha, tema que raramente ganha destaque no gênero.

Do ponto de vista simbólico, O Último Ritual sugere que o verdadeiro peso dos Warren não está apenas nos demônios enfrentados, mas no fardo psicológico acumulado ao longo dos anos. Há uma sensação de que a batalha contra o sobrenatural foi também uma luta contra a descrença, contra os limites da fé e contra o desgaste da própria vida. Infelizmente, o roteiro não explora essa camada com a profundidade que poderia transformar a obra em algo memorável.

No fim, o filme confirma aquilo que muitos já suspeitavam; a franquia Invocação do Mal nasceu com a energia inconfundível de James Wan, e desde sua saída, luta para encontrar uma identidade própria. O Último Ritual é menos um capítulo aterrorizante e mais um epílogo sentimental. Funciona como adeus, mas não como terror. É provável que, para alguns fãs, isso seja o suficiente; para outros, ficará a sensação de que a saga merecia um fechamento mais ousado, digno do impacto que causou em seus primeiros passos.

O filme estreia amanhã nos cinemas.

Avaliação - 6/10

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