| Divulgação | HBO Max |
• Por Alisson Santos
O quinto episódio de IT: Bem-Vindos a Derry representa o verdadeiro momento de inflexão da temporada — aquele ponto em que todos os balões vermelhos, silhuetas sombrias e ameaças veladas finalmente convergem para uma revelação que não apenas satisfaz a espera, mas reconfigura a experiência de assistir à série. Se até aqui estávamos caminhando por um terreno nebuloso, tenso e sugestivo, este capítulo decide descortinar de vez o terror que habita Derry. E faz isso com uma precisão cruel.
Desde seus primeiros minutos, o episódio é construído com uma cadência peculiar, como se cada cena carregasse a sensação de que algo está prestes a se romper — e, de fato, está. A direção investe em um ritmo lento o suficiente para criar antecipação, mas nunca arrastado. Pelo contrário; há uma compressão emocional que aperta o espectador por dentro, uma espécie de sufocamento dramático que se intensifica à medida que nos aproximamos do inevitável. O episódio começa com o aparente “retorno” de um personagem do início da série, mas logo entendemos que aquilo não é mais uma criança. É uma presença sombria, usando a memória da inocência como isca para conduzir novas vítimas aos esgotos de Derry. O curioso é que a série nos faz acreditar, com absoluta naturalidade, que estamos diante da mesma criança. E funciona; caímos na armadilha junto com os personagens.
A câmera passeia pelos esgotos, pelos corredores estreitos e pelos silêncios carregados de intenção, como se a própria cidade estivesse segurando o ar. É um episódio que vive de expectativa — e que entende profundamente o valor de fazer a plateia esperar.
Quando Pennywise finalmente surge, não é apenas um momento aguardado; é um evento cuidadosamente arquitetado. Nada nele soa gratuito ou exibicionista. É um encontro com o horror que abandona a promessa e assume sua forma definitiva. Ao som de "Down with the Clown", uma canção de ninar assustadora criada para a série, que ganhou popularidade viral após ser apresentada no trailer. A letra faz alusão ao medo e ao perigo associados ao palhaço, e ao tema da série, em que as pessoas estão "aqui embaixo... com o palhaço". Toda a construção dessa cena é simplesmente arrebatadora.
A cena é memorável não porque grita, mas porque sabe exatamente como sussurrar antes de gritar. O palhaço não aparece como um espetáculo de efeitos visuais; ele emerge como uma presença inevitável, uma manifestação simbólica do medo que Derry tenta esconder desde sua fundação. Cada segundo antes do seu surgimento é milimetricamente calculado para fazer a plateia sentir que o abismo está prestes a abrir — e quando abre, o impacto não é apenas visual, mas visceral.
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Outro destaque do episódio é o avanço da trama militar. Até então funcionando como uma linha paralela, ela se entrelaça definitivamente à jornada das crianças quando os militares também adentram os esgotos — o coração pulsante da corrupção da cidade. Essa escolha reforça uma premissa importante; o terror de Derry não pertence somente ao universo infantil. Ele é institucional, político, histórico. A presença dos militares carrega a narrativa para um patamar mais amplo, mais grave, e cria um espelho interessante entre racionalidade adulta e vulnerabilidade infantil. Se nem os adultos treinados e armados conseguem escapar da influência do mal subterrâneo, o que isso diz sobre o destino das crianças?
O episódio apresenta uma morte importante, e embora nenhuma envolva as crianças (algo que alguns esperavam ver nesta altura da temporada), isso não diminui o impacto emocional. Pelo contrário; a escolha demonstra controle criativo. Em vez de entregar um choque fácil, a série opta por preservar seus protagonistas para momentos mais estratégicos e, consequentemente, mais devastadores. A morte aqui funcionam como lembretes de que a série não tem medo de sujar as mãos — apenas sabe exatamente quando e onde fazê-lo. Elas servem como prelúdio de algo muito maior que ainda está por vir, reforçando a sensação de que o ápice da temporada sequer começou.
O quinto episódio também aprofunda o que a série vem desenvolvendo desde o início; o medo como entidade. Pennywise, nesse contexto, não é apenas uma criatura monstruosa; é um reflexo distorcido de inseguranças, traumas e segredos enterrados. A série parece compreender que o horror verdadeiramente eficaz não está apenas na figura grotesca que se materializa, mas no que essa figura evoca. Hallorann permanece essencial para a narrativa; suas habilidades de iluminado seguem sendo exploradas com intensidade e continuam fundamentais para o avanço da trama.
Com sua montagem segura, sua atmosfera sufocante e sua habilidade de finalmente entregar a promessa de Pennywise sem perder o controle, o quinto episódio de IT: Bem-Vindos a Derry se destaca como um dos mais fortes da temporada. Ele reúne o melhor da série; tensão psicológica, horror sobrenatural, personagens bem definidos e uma construção meticulosa de expectativas. E, mais importante; ele deixa claro que o pior ainda está por vir.
O quinto episódio vai ao ar às 23h, na HBO e na HBO Max.
Avaliação - 9/10
Ansiosa 🎈
ResponderExcluirA aparição do Pennywise: Absolute cinema.
ResponderExcluirEpisódio insano.
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