As Luzes da Morte: o verdadeiro horror por trás de Pennywise

Divulgação | HBO Max

• Por Alisson Santos 

As luzes da morte — ou Deadlights — sempre foram um dos elementos mais enigmáticos e aterradores do universo criado por Stephen King. Em meio ao caos que envolve Pennywise, a criatura que assume a forma de palhaço é apenas a superfície de algo infinitamente mais antigo, mais vasto e mais cruel. As luzes são a verdadeira essência dessa entidade cósmica, um fenômeno que desafia as leis do pensamento humano e dissolve qualquer noção de realidade conhecida.

Apesar de frequentemente associadas ao brilho hipnótico que brota da boca do palhaço, as luzes da morte não são simplesmente um poder visual ou um truque de intimidação. Elas representam a forma pura de mal primordial, uma energia que não foi feita para ser compreendida por mentes mortais. Quem as encara se torna prisioneiro de um estado de paralisia absoluta; o corpo permanece no mundo físico, mas a consciência é arrancada e arrastada para um abismo contínuo, onde o tempo não passa, onde tudo é dor, desordem e desorientação. Não existe grito, não existe luta, não existe salvação — apenas a sensação constante de ser devorado por algo que está além da existência.

O mais cruel sobre as Deadlights é que elas não matam de imediato. Elas consomem lentamente, mastigando a alma antes de destruir o corpo. Beverly Marsh, uma das poucas personagens capazes de descrevê-las, sobreviveu por poucos instantes à exposição e, mesmo assim, carregou cicatrizes psicológicas profundas. Outros, como Patrick Hockstetter na obra literária, desapareceram para sempre dentro desse brilho impossível, deixando apenas a casca vazia de uma pessoa que já não está ali. É como se Pennywise abrisse uma janela para o ventre de um universo hostil e convidasse os humanos a encarar o que jamais deveria ser visto.

As luzes também são a prova definitiva de que Pennywise é apenas um avatar — um disfarce grotesco utilizado para se relacionar com presas inferiores. Quando ele revela as Deadlights, o palhaço se desfaz como uma máscara, e a criatura mostra um vislumbre de sua natureza verdadeira. Não há forma, não há corpo, não há limites. Apenas energia predatória bruta. É por isso que as luzes estão acima da compreensão humana; elas vêm de um plano onde conceitos como vida, morte, tempo ou matéria não possuem significado.

A mitologia de Stephen King sugere que as Deadlights coexistem com outras forças cósmicas do Macroverso, como Maturin, a Tartaruga. Mas, enquanto essa última representa equilíbrio, sabedoria e criação, as luzes da morte representam caos, fome e aniquilação. São polos opostos de um mesmo universo, uma dualidade eterna e impossível de ser conciliada.

Nas adaptações audiovisuais, as luzes da morte ganharam interpretações visuais impactantes, com feixes luminosos pulsando em padrões quase orgânicos, como se tivessem vida própria. Mas nenhuma versão consegue capturar plenamente o horror descrito nos livros, porque parte do terror está exatamente no que não pode ser mostrado. A verdadeira força das Deadlights está na sugestão de algo tão terrível que só pode ser percebido indiretamente — através da loucura das vítimas, da fixação vazia de seus olhares, da forma como seus corpos se contorcem enquanto a mente já foi apagada.

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