| Divulgação | HBO Max |
• Por Alisson Santos
O episódio final de IT: Bem-Vindos a Derry funciona menos como um simples encerramento de temporada e mais como uma declaração de intenções. O oitavo capítulo entende perfeitamente que o verdadeiro terror da obra de Stephen King — e de suas ramificações audiovisuais — nunca esteve apenas na violência explícita ou na contagem de corpos, mas na antecipação, na sensação constante de que o mal está sempre um passo à frente. E é exatamente nessa atmosfera de incerteza que o episódio encontra sua maior força.
Desde os primeiros minutos, a direção estabelece um clima sufocante. Pennywise surge não apenas como uma entidade assassina, mas como uma força caótica em pleno processo de expansão. Sem barreiras, ele está mais poderoso, mais imprevisível e, sobretudo, mais consciente de si mesmo. A nova onda de violência que toma Derry não busca apenas o choque imediato; ela reacende um trauma coletivo que parece entranhado na cidade, colocando crianças em perigo mais uma vez e reforçando a ideia de que Derry não é apenas cenário, mas cúmplice silenciosa do horror.
Paralelamente, a jornada de Hallorann se consolida como o eixo emocional e metafísico do episódio. Ao abrir seu “cofre” mental, ele ultrapassou limites que talvez jamais devessem ser cruzados. Suas visões instáveis e aterradoras não são tratadas como meros dispositivos narrativos, mas como um preço real a ser pago pelo conhecimento. A série acerta ao retratar suas habilidades como uma bênção ambígua; essenciais no confronto contra Pennywise, mas profundamente corrosivas para sua sanidade. É nesse ponto que IT: Bem-Vindos a Derry demonstra maturidade ao dialogar com o terror psicológico, mostrando que enfrentar o mal absoluto exige sacrifícios que nem sempre são visíveis ou heroicos.
Embora o episódio não seja o mais trágico em termos de mortes, ele trabalha a tensão com precisão cirúrgica. O roteiro se recusa a oferecer conforto ao espectador, mantendo até os segundos finais a dúvida sobre a possibilidade real de vitória. Essa escolha narrativa reforça uma das ideias centrais da série; Pennywise não é um inimigo que se derrota facilmente, tampouco de forma definitiva. Cada confronto é apenas um adiamento do inevitável.
Outro grande mérito do episódio está na maneira como ele encerra a maioria das narrativas e subtramas abertas ao longo da temporada. Nada soa apressado ou descartável. Pelo contrário, há um cuidado evidente em amarrar histórias individuais enquanto se constrói uma ponte sólida com o primeiro filme da franquia. As conexões não funcionam como fan service gratuito, mas como extensões naturais daquele universo, ampliando sua mitologia e reforçando a sensação de um mal ancestral que atravessa gerações.
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Essa expansão mitológica ganha ainda mais peso com a abordagem do Macroverso. Ao revelar que Pennywise possui a habilidade de enxergar passado, presente e futuro, a série eleva o palhaço a um patamar quase trágico. Ele sabe que será derrotado pelo Clube dos Otários — e é justamente essa consciência que o torna ainda mais perigoso. A possibilidade de tentar alterar o próprio destino cria um subtexto fascinante para outras temporadas, transformando o episódio final em um jogo de xadrez cósmico, no qual cada diálogo carrega ecos de futuros possíveis. As linhas de diálogo ganham camadas adicionais, funcionando tanto como ameaça quanto como profecia.
Enquanto isso, o arco de Hank, Will e Ronnie adiciona uma dimensão humana e desesperada ao caos crescente. A tentativa de fuga de Derry simboliza o desejo de escapar não apenas da cidade, mas do ciclo de violência que ela impõe. Já a revelação dos planos de Shaw surge como um lembrete cruel de que o horror nem sempre é sobrenatural — muitas vezes, ele nasce das ambições e escolhas humanas.
O clímax do episódio é, sem exageros, um dos momentos mais intensos já retratados nesse universo. O caos que se instala não é apenas visual, mas emocional. A cidade parece perder qualquer vestígio de normalidade, mergulhando em um pesadelo coletivo que redefine os limites do horror apresentado até então.
No fim, IT: Bem-Vindos a Derry encerra sua temporada inaugural com segurança, ambição e respeito ao legado que carrega. O episódio final não entrega respostas fáceis nem promessas vazias. Ele fecha ciclos, planta sementes e deixa claro que Pennywise não é um mal a ser superado, mas um enigma eterno — um ser que aprende, observa e se adapta. Ao fazer isso, a série não apenas se conecta magistralmente ao primeiro filme, como também abre caminhos intrigantes para temporadas futuras, reafirmando que, em Derry, o horror nunca dorme.
O último episódio vai ao ar às 23h, na HBO e na HBO Max.
Avaliação final - 8/10
Eu tô tão ansiosa 👀
ResponderExcluirEsse negócio do Pennywise ver o futuro, eu achei do caralho. Só trás mais significado para suas derrotas e obsessões em grupos específicos.
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