Crítica | Tempo de Guerra - Um filme que troca a emoção pelo experimento, e encontra na própria secura a sua força e a sua limitação.

Divulgação | A24

• Por Alisson Santos 

Alex Carlon, em parceria com o veterano de guerra Rei Mendoza, entrega em Tempo de Guerra um exercício cinematográfico que tenta dissolver a distância entre a ficção e a memória traumática. O filme nasce do relato pessoal de Mendoza sobre sua experiência no Iraque, e Carlon – assim como Garland fez em Guerra Civil – abre mão de convenções clássicas de narrativa para buscar uma precisão quase documental, onde o horror não está apenas na violência mostrada, mas na forma como o som, a ausência de trilha e o tempo real de rodagem constroem um espaço sufocante.

O simbolismo da obra é direto e corrosivo; não há heróis, apenas corpos expostos ao caos. As janelas fechadas que escondem insurgentes funcionam como metáforas de um inimigo sempre invisível, que existe mais como sensação do que como figura. Da mesma forma, a câmera em tempo real não permite o respiro do corte dramático ou do flashback explicativo, o espectador está preso no mesmo espaço mental dos soldados, onde segundos se alongam em eternidade.

O roteiro, embora minimalista, é pensado para desmontar expectativas. Não há subtramas emocionais, nem um “arco de redenção” que permita ao público escapar pelo sentimentalismo. Cada personagem é reduzido a reação; o pânico, a hesitação, a perda de controle. É nesse gesto que o filme rompe com o modelo hollywoodiano de guerra, onde o heroísmo costuma servir de anestesia para a brutalidade. Tempo de Guerra recusa esse anestésico. Sua narrativa é uma ferida aberta.

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No entanto, essa mesma escolha estrutural cobra um preço. Ao não oferecer qualquer aprofundamento nas relações pessoais dos personagens, o filme se sustenta apenas na situação. O espectador se conecta com o desespero, mas não necessariamente com quem o vive. É um experimento ousado, mas também limitador; ao rejeitar a construção clássica de drama, Carlon e Mendoza arriscam transformar a experiência em puro choque, e nem sempre em reflexão.

Ainda assim, o mérito de Carlon e Mendoza está justamente em se afastar das convenções e desafiar o público. Tempo de Guerra não é um épico militar, mas uma crônica claustrofóbica. Seu verdadeiro protagonista é o caos, um caos que não pode ser controlado, narrado ou enquadrado em discursos confortáveis. Ao se recusar a vestir o uniforme do heroísmo, o filme entrega uma visão mais honesta, ainda que desconfortável, da guerra; um evento que não gera glória, mas cicatrizes.

O filme está disponível no Prime Video.

Avaliação - 7/10

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