Crítica | Alien: Earth - Episódio 3: Metamorfose

Divulgação | Disney+

• Por Alisson Santos 

O terceiro episódio de Alien: Earth, intitulado Metamorfose, se destaca não apenas pela continuidade narrativa, mas pelo aprofundamento simbólico da série. O título já indica o coração do episódio: transformação, uma mudança que vai muito além da física e se estende à identidade, à moralidade e à percepção de poder. A metamorfose aqui é simultaneamente externa – os corpos híbridos, os sintéticos e os alienígenas – e interna, refletindo os dilemas psicológicos e existenciais dos personagens.

Nibs emerge como o núcleo emocional da narrativa, representando a angústia de perder não apenas a vida anterior, mas a própria humanidade. A transição de sua consciência de uma criança terminalmente doente para um corpo sintético adulto simboliza a desconexão entre essência e forma, questionando o que define a identidade; a memória, a aparência ou o corpo em si. O gesto simbólico de tocar o próprio olho artificial é um lembrete visual potente de que, apesar de sua aparência humana, Nibs se tornou tão estrangeira quanto os alienígenas que observa, sugerindo que todos estão aprisionados em recipientes — biológicos ou tecnológicos — que delimitam suas existências.

Kirsh, por outro lado, encarna a ambição e a arrogância da supremacia. Sua interação com Kavalier revela uma luta de poder subjacente; não se trata apenas de comando, mas da redefinição de quem é “mais humano” ou “mais evoluído”. Ao manipular corpos e implantar partes alienígenas em Hermit, Kirsh simboliza a transição ética e moral do homem para o ser que se vê acima do humano. Ele não apenas questiona a autoridade, mas personifica a evolução através da dominação e da utilidade dos outros como peças em seu experimento. A forma como desconsidera Wendy reforça sua hierarquia fria e utilitarista, em contraste com as ligações humanas que persistem entre outros personagens.

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O arco de Morrow introduz outra camada simbólica; a renúncia à humanidade em nome de um objetivo maior. Ele se distancia da experiência humana, tornando-se quase uma extensão mecânica de Yutani. A história de Morrow reflete a tensão entre eficiência e moralidade, entre dever e sacrifício, e questiona se é possível manter a humanidade quando a sobrevivência e a missão exigem a subordinação da emoção e da consciência. Sua perda de família, o desaparecimento de um lar e as lembranças de uma filha que ele jamais poderá rever transformam seu papel em um símbolo de abnegação extrema, mas também de alienação total — outro espelho do que Nibs e Kirsh experienciam, ainda que de maneiras diferentes.

Wendy, por fim, cria uma ponte sensorial entre espécies. Sua capacidade de ouvir e sentir a dor dos alienígenas conecta todos os níveis de existência presentes na série; humano, híbrido, sintético e alienígena. A percepção única de Wendy sugere que a empatia e a sensibilidade são formas de resistência e lembrança daquilo que permanece humano, mesmo em um mundo onde corpos e mentes são objetos de experimentação.

Visualmente, o episódio reforça a simbologia com contrastes de luz e sombra, momentos de tensão estética e uma atmosfera que mistura horror e contemplação. Cada cena de transformação ou conflito carrega um peso metafórico; o progresso científico é inseparável da ética; a evolução da espécie é inseparável da dominação; e a sobrevivência física é inseparável da prisão da consciência.

Em última análise, o episódio transforma a ficção científica em filosofia em ação. Ele usa o horror e a estética futurista não apenas para entreter, mas para refletir sobre as tensões entre natureza e tecnologia, humanidade e artificialidade, poder e ética. Cada metamorfose, seja de Nibs, Kirsh ou Morrow, é um espelho de dilemas existenciais, e cada cena cuidadosamente construída reforça que a verdadeira batalha da série não está apenas entre espécies diferentes, mas entre escolhas, consciência e a definição do que significa viver em um mundo em constante transformação. 

O terceiro episódio já está disponível no Disney+.

Avaliação - 9/10

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