Crítica | A Guerra dos Mundos - 1/10. E isso já é generosidade.

Divulgação | Prime Video

• Por Alisson Santos 

Rich Lee conseguiu um feito raro em A Guerra dos Mundos transformar um clássico literário sobre destruição, paranoia e sobrevivência em uma longa chamada de vídeo mal renderizada. A ideia era ousada, adaptar o romance de H.G. Wells em formato screenlife, onde tudo se passa por telas de celular e computador. O problema é que ousadia sem competência costuma dar nisso; um filme asqueroso. Filmado em 2020, no auge da pandemia, e engavetado por cinco anos (com toda a razão), o longa finalmente foi despejado no catálogo do Prime Video sem alarde. Não é difícil entender o motivo; ninguém queria assumir a paternidade desse desastre.

Ice Cube, preso em frente a uma tela verde durante noventa intermináveis minutos, interpreta um analista de segurança digital que precisa deter alienígenas que… comem dados. Sim, é isso mesmo. E quando o filme tenta criar um clímax emocional, entrega uma das cenas mais patéticas da década, Ice Cube chorando enquanto a página de Facebook da esposa falecida é deletada em tempo real. Sim, esse é o ponto mais dramático de A Guerra dos Mundos; não cidades destruídas, não a humanidade à beira da extinção, mas uma página de rede social sumindo. É tão ridículo que parece sátira, mas infelizmente é sério.

O screenlife exige sutileza e tensão, mas aqui o diretor parece não confiar no público. Cada clique, cada mapa, cada ligação é explicado com legendas redundantes, como se estivéssemos em uma versão infantilizada do gênero. Quando os efeitos especiais entram em cena, a sensação de constrangimento aumenta; imagens de arquivo genéricas com selos da CNN colados em cima, cenas que parecem retiradas de um jogo do PlayStation 1 e até fotos de família recortadas no Photoshop de forma amadora.

Divulgação | Prime Video

Ice Cube, que deveria sustentar a trama, está visivelmente desconfortável. Sua atuação é apática, perdida entre olhares para telas verdes e reações forçadas. O resto do elenco, igualmente deslocado, parece ter gravado cada cena em isolamento sem nunca acreditar no projeto. E talvez estivessem certos; ninguém acreditava

E, claro, não podia faltar a cereja do bolo; a propaganda descarada para o Amazon Prime Air, serviço de entrega por drones que aparece como se fosse a salvação da humanidade. No meio de um filme sobre invasão alienígena, somos obrigados a engolir um comercial de logística. Faltou só o “Compre agora e receba em até 24 horas”.

No fim, A Guerra dos Mundos não é só a pior adaptação da obra, é uma das experiências mais constrangedoras do ano. Um filme que parece ter vergonha de existir, e com razão.

O filme está disponível no Prime Video.

Avaliação - 1/10

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