Divulgação | Marvel Studios |
• Por Alisson Santos
Desde que foi anunciado como desdobramento direto de What If…?, Marvel Zumbis carregava tanto entusiasmo quanto desconfiança. Afinal, o episódio original da série já havia mostrado o potencial de um UCM infectado por uma praga zumbi, mas também revelou as limitações de um conceito que parecia mais uma curiosidade do que uma narrativa robusta. Agora, em formato próprio e com classificação mais alta, a produção da Marvel Studios busca provar que não é apenas mais um spin-off descartável, e o resultado, embora irregular, é um dos mais ousados experimentos do estúdio.
Logo de início, a série mostra a que veio; violência explícita, sangue em profusão e heróis conhecidos colocados em situações que jamais seriam permitidas no universo principal. Ver figuras como Wanda Maximoff, Doutor Estranho ou mesmo Thanos convertidos em versões apodrecidas de si mesmos tem um impacto imediato. Não é só pela estética grotesca, mas pelo subtexto; a corrupção de símbolos que, até então, representavam esperança e vitória. Nesse sentido, Marvel Zumbis cumpre a promessa de expandir a ideia de What If…?, levando o conceito às últimas consequências.
O maior acerto está na condução da narrativa por Kamala Khan/Ms. Marvel, transformada aqui em líder improvável da resistência. Essa escolha dá um frescor ao enredo, não apenas porque desloca o protagonismo dos mesmos rostos de sempre, mas também porque reforça a capacidade da personagem de carregar histórias maiores do que lhe permitiram em live-action. O mesmo vale para Shang-Chi, Kate Bishop e Blade, todos mais bem utilizados aqui do que em seus próprios filmes ou séries. É quase irônico; o “spin-off do spin-off” consegue valorizar heróis que o “universo principal” insiste em desperdiçar.
No entanto, o entusiasmo encontra uma barreira óbvia; a animação. A estética de What If…? nunca foi consenso, e embora Marvel Zumbis refine alguns aspectos — cenários mais caprichados, composições de ação visualmente impressionantes —, os personagens ainda sofrem com expressões faciais de cera e movimentos pouco orgânicos. Isso compromete especialmente as cenas mais dramáticas, em que a intensidade da dublagem não encontra correspondência no visual. O resultado é um contraste incômodo entre o que ouvimos e o que vemos, tornando algumas sequências emocionalmente estéreis.
Divulgação | Marvel Studios |
Em termos de enredo, a série não reinventa a roda. O arco segue uma estrutura relativamente previsível; resistência contra ameaça global, sacrifícios inevitáveis, confrontos apoteóticos. O diferencial está mesmo no uso criativo dos poderes em batalhas sangrentas. Homem-Aranha usando suas teias como lâminas para decapitar inimigos, Blade empunhando tanto sua lâmina quanto os dons de Cavaleiro da Lua, ou mesmo Ikaris duelando com a Capitã Marvel em um combate que mistura tragédia e espetáculo — tudo isso dá a sensação de liberdade que raramente vemos no UCM. A série se permite ser brutal, e nisso reside grande parte de sua diversão.
Ainda assim, persiste uma sensação de vazio. Diferente de X-Men ‘97, que trouxe uma história com urgência narrativa, Marvel Zumbis muitas vezes parece apenas um exercício de estilo; divertido, sim, mas não essencial. O próprio final, que abre espaço para uma possível continuação, escancara a indecisão do estúdio. Será que vale investir mais nessa linha, ou tudo não passa de um experimento pontual para preencher catálogo? O peso das decisões recentes da Marvel — priorizar qualidade em vez de quantidade — paira como sombra sobre a série.
No fim, Marvel Zumbis é paradoxal; uma obra que mostra o quanto o UCM pode ser criativo quando se arrisca fora da fórmula, mas que também escancara as limitações de depender demais de fan service e universos paralelos. Funciona como entretenimento sangrento, recheado de easter eggs e ideias bizarras, mas dificilmente deixará uma marca profunda. Para os fãs de zumbis e da Marvel, é uma aventura saborosa. Para quem busca uma história memorável, talvez seja apenas mais uma mordida sem tanto impacto.
Marvel Zumbis já está disponível no Disney+.
Avaliação - 6/10
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