OpenAI aposta em revolução do cinema com animação feita por inteligência artificial

Divulgação | Native Foreign

• Por Alisson Santos 

A indústria do cinema está diante de um marco que pode redefinir o futuro da animação. A OpenAI anunciou oficialmente sua colaboração em Critterz, um longa-metragem que será majoritariamente produzido com inteligência artificial e que já nasce envolto em expectativa e controvérsia. O projeto tem ambições ousadas; ser concluído em apenas nove meses, algo impensável para padrões convencionais que costumam exigir até três anos de produção, e custar menos de 30 milhões de dólares, um orçamento modesto quando comparado às cifras de gigantes como Pixar ou Disney.

A origem de Critterz remonta a 2023, quando o diretor e criativo da OpenAI, Chad Nelson, lançou um curta experimental com o mesmo nome. Utilizando o gerador de imagens DALL·E, Nelson criou personagens e cenários que foram posteriormente animados em um processo híbrido, mesclando tecnologia e técnicas tradicionais. O resultado foi exibido em festivais de prestígio, incluindo Annecy, Tribeca e Cannes Lions, e chegou a ser finalista do Producers Guild Innovation Award. Apesar do impacto visual e da ousadia criativa, a recepção foi morna, com avaliações críticas pouco favoráveis. Ainda assim, o curta abriu caminho para que o conceito evoluísse até se transformar em um longa com apoio direto da OpenAI.

A nova produção conta com a parceria da britânica Vertigo Films, pertencente à Federation Studios, e do estúdio de criação Native Foreign, em Los Angeles. Para o roteiro, foram convocados James Lamont e Jon Foster, conhecidos pelo trabalho em Paddington: Uma Aventura na Floresta, que agora se unem ao desafio de construir uma narrativa sustentada em grande parte por ferramentas de inteligência artificial. Nelson retorna como produtor consultor, e Jane Moore assume a produção executiva, compondo um time que mistura experiência humana e tecnologia de ponta.

Divulgação | Native Foreign

O processo criativo de Critterz terá múltiplas camadas de IA. O DALL·E será novamente responsável pelo design conceitual, criando cenários e personagens a partir de descrições textuais; o Sora, modelo de vídeo da OpenAI, ficará encarregado de gerar sequências animadas; e o GPT-5 deverá auxiliar na elaboração do roteiro e na adaptação de diálogos. Ainda assim, os produtores insistem que a presença humana será essencial; artistas continuarão a contribuir com esboços e refinamentos, enquanto atores emprestarão suas vozes aos personagens, garantindo que a tecnologia funcione como ferramenta e não substituição.

Se tudo correr conforme o planejado, Critterz será exibido pela primeira vez no Festival de Cannes em 2026, um palco simbólico para a estreia de um projeto que pretende ser tão revolucionário. A proposta, no entanto, não vem sem controvérsias. Sindicatos e profissionais do setor já manifestaram preocupação com o impacto da inteligência artificial nos empregos da indústria criativa, além de levantarem debates sobre autoria e direitos autorais em obras produzidas por máquinas. O público, por sua vez, pode se mostrar cético, considerando que o curta original não conquistou boas notas em plataformas como o IMDb, onde recebeu avaliações baixas.

Ainda assim, o projeto desperta enorme curiosidade. Se for bem-sucedido, Critterz poderá provar que a IA é capaz de tornar a produção cinematográfica mais ágil, menos custosa e igualmente criativa. Caso contrário, poderá ser lembrado como uma experiência prematura, incapaz de alcançar o impacto artístico de uma obra concebida por mãos humanas. De qualquer forma, seu lançamento promete marcar uma era em que a fronteira entre criatividade humana e tecnologia se torna cada vez mais tênue, colocando em disputa não apenas o futuro da animação, mas o próprio conceito de cinema.

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