Crítica | Stranger Things 5: Volume 1 - Ainda há tempo para que isso mude. Mas, por enquanto, estamos diante de uma temporada boa — quando queríamos algo verdadeiramente grandioso.

Divulgação | Netflix

• Por Alisson Santos 

Após quase uma década definindo o padrão das grandes produções da Netflix, Stranger Things retorna para sua temporada final tentando equilibrar dois mundos; o da nostalgia que sempre foi seu combustível e o da maturidade que seu elenco — e seu público — alcançou. O resultado, pelo menos neste Volume 1, é um início sólido, emocionante em momentos, mas marcado por tropeços que revelam que a série já não é mais tão infalível quanto antes.

A trama se passa em novembro de 1987, alguns meses após o caos deixado pela batalha contra Vecna. Eleven segue foragida, treinando com Hopper para o confronto definitivo, enquanto o restante do grupo se espalha entre Hawkins — agora uma fortaleza sitiada sob comando militar — e o Mundo Invertido. A missão é clara, mas a sensação é de que todos estão avançando por um terreno já conhecido, onde cada pista parece levar a um destino previsível.

Ainda assim, o coração de Stranger Things continua batendo forte. Os Duffer mantêm a capacidade de criar momentos de humanidade que aquecem até os episódios mais tensos; a amizade improvável entre Will e Robin se torna uma das surpresas mais agradáveis da temporada, enquanto a dor mal resolvida de Dustin pela perda de Eddie Munson dá profundidade emocional a cenas que, de outra forma, seriam apenas exposição de trama. Mesmo sem novos “queridinhos instantâneos”, pequenos personagens brilham — a começar por Karen Wheeler e até a pequena Holly, que ganha destaque inesperado.

Mas é inegável que a idade pesa — e não apenas no elenco. A série, que retratava a adolescência com precisão quase mágica, parece não acompanhar os próprios personagens agora mais velhos. Muitas falas soam artificiais, como se o roteiro ainda tentasse enxergá-los como crianças. Essa ruptura entre aparência, comportamento e escrita cria uma camada de estranhamento que enfraquece a naturalidade das relações.

É nesse contexto que surge uma das escolhas que mais me incomodam no Volume 1; a inclusão de uma cena de bullying brutal envolvendo Dustin, recheada de violência gráfica, claramente pensada para gritar ao espectador “olha só como meus personagens cresceram”. A lógica é compreensível — a série quer provar maturidade — mas o gesto se torna transparente demais; o artifício aparece antes da intenção. Ainda assim, paradoxalmente, a cena funciona. Não apenas pela direção precisa ou pelo impacto visual, mas porque é bem escrita, bem desenvolvida e prende o espectador pela crueldade crua que expõe. O problema não é a execução, mas o subtexto; a sensação de que Stranger Things tenta forçar sua fase adulta em vez de permitir que ela aconteça organicamente.

Divulgação | Netflix

Outro ponto que chama atenção é a previsibilidade. Desde a primeira temporada, Stranger Things se destacava por virar a mesa quando menos se esperava — a revelação sobre Vecna, por exemplo, permanece como uma das viradas mais surpreendentes da série. Aqui, porém, o espectador se vê frequentemente um passo à frente dos heróis, o que torna alguns episódios mais longos do que envolventes.

Mesmo assim, a série nunca desmorona. O Volume 1 não é ruim — longe disso. Há cenas potentes, efeitos visuais caprichados, uma ambientação que permanece impecável e pelo menos um momento, no episódio 4, que lembra o porquê Stranger Things se tornou um fenômeno global. Mas a sensação dominante é de que a série está correndo atrás de seu próprio legado, tentando replicar o impacto de feitos como o massacre no laboratório, o solo de guitarra de Eddie Munson no Mundo Invertido ou o primeiro embate de Eleven contra o Demogorgon.

No fim, Stranger Things 5: Volume 1 não é um desastre — longe disso. É divertido, envolvente, tecnicamente competente e ainda tem coração. Mas já não é brilhante como antes. A série luta para equilibrar nostalgia e amadurecimento, e por vezes parece correr atrás da própria sombra.

Ainda há tempo para que isso mude. Mas, por enquanto, estamos diante de uma temporada boa — quando queríamos algo verdadeiramente grandioso.

O Volume 1 já está disponível na Netflix.

Avaliação - 7/10

Comentários

  1. Eliezer Rodrigues27/11/25

    O cara nunca é levado pelo hype, impressionante sua coesão nas suas opiniões. Parabéns e continue assim.

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