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• Por Alisson Santos
Desde antes da linguagem, antes mesmo dos primeiros dinossauros rasgarem os céus com seus rugidos, IT já existia. Nos recantos mais primitivos da Terra, entre répteis lentos, anfíbios primitivos e mamíferos ainda em gestação evolutiva, esta criatura buscava o instinto mais puro de todos; o medo. Não a fome física, mas o terror. O pavor de saber, tardiamente, que algo impossível nos encontra.
De acordo com o universo aterrorizante criado por Stephen King em seu romance It: A Coisa, essa entidade não é apenas um monstro clássico. Ela é uma força interdimensional ancestral, descrita como vindo do chamado “Macroverso” — um vazio primordial que circunda e transcende o universo conhecido. Segundo a mitologia de King, IT chegou à Terra há milhões de anos, por meio de um asteroide. Antes mesmo da formação de humanidades, ela dormia sob a superfície, adormecida por longos ciclos. Na obra literária, IT é descrito não como uma criatura física simples, mas como algo muito mais complexo; seu verdadeiro estado é algo próximo das "Luzes da Morte", uma analogia para suas facetas quase abissais de energia e consciência.
Quando os primeiros humanos finalmente surgiram no cenário — mais especificamente os povos que viriam a habitar o local fictício de Derry, no Maine — IT descobriu um novo banquete. Humanos não só eram vulneráveis, mas capazes de produzir um tipo de terror diferente. Para alimentar-se completamente desse medo, a entidade precisou evoluir. Começou a moldar-se, a assumir formas que evocavam as fobias mais profundas, tomando rostos e criaturas do inconsciente das pessoas. Dentre suas múltiplas manifestações, a mais famosa é, sem dúvida, Pennywise, o Palhaço Dançarino, uma máscara inocente e sedutora para algo muito mais sombrio.
O palhaço Pennywise, ao lado de outras formas monstruosas, permite que IT entre nas mentes das vítimas, seduza as crianças — suas presas preferidas — e semeie um medo primitivo, inteligível e irresistível. Esses ciclos de terror não são constantes; IT hiberna. Segundo a mitologia de King, o monstro desperta a cada 27 anos para alimentar-se e, depois, volta a dormir.
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Mas por que IT escolhe crianças? A lógica desse ser é inexorável; o medo infantil é puro, mais acessível e mais intenso. A mente das crianças, com seus medos ainda não moldados por racionalidades adultas, oferece a IT um banquete perfeito.
A verdadeira forma de IT, contudo, permanece misteriosa. Nos livros, ela é mais do que um palhaço ou uma aranha gigante — embora tenha sido retratada sob essas formas. Há ainda o contraponto; a Tartaruga, conhecida como Maturin, uma entidade benigna que, segundo King, “vomitou” o universo e gerou a existência de IT, e ao fazê-lo, alimentou a própria Terra. Esse embate cósmico entre a tartaruga e a Coisa reforça a natureza quase religiosa e mítica dessa mitologia; IT não é apenas mal, mas parte de uma ordem universal, antiga, invisível, poderosa — e incompreensível para mentes humanas.
Seu deleite não é o simples ato de consumir carne, mas capturar o terror, congelar o tempo no instante em que a presa compreende a sua própria vulnerabilidade. Com os humanos, descobriu formas novas, sutis e dolorosas de provocar pânico, usando rostos conhecidos, medos íntimos, e a inocência de quem ainda não aprendeu a nomear seus terrores.
Em suma, embora IT jamais tenha nascido da Terra como nós, ele se tornou parte dela de um modo insidioso; impondo ciclos de horror a cada geração, dormindo e acordando nas sombras, se alimentando de nós. Sua “fome” é mais do que sangue — é psíquica, para além da carne. É a essência do medo, e com os humanos aprendeu a degustá-la como nunca havia feito antes.
Matéria bem legal. Parabéns!
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