| Divulgação | Variety |
• Por Alisson Santos
O cinema mundial perdeu, neste domingo (23), um de seus artistas mais singulares e inconfundíveis. Udo Kier, ator alemão dono de uma presença magnética e de uma filmografia que atravessa seis décadas, morreu aos 81 anos, segundo confirmou seu parceiro, o artista Delbert McBride. Ícone do cinema cult, figura recorrente no horror, no experimental e no autoral, Kier deixa um vazio que poucos nomes poderiam preencher.
A feição singular e os olhos azuis hipnotizantes se tornaram uma marca registrada do incansável ator nascido em Colônia, na Alemanha, em meio à Segunda Guerra Mundial, num hospital bombardeado instantes após o parto. Kier construiu uma carreira marcada pela ousadia. De Warhol a Lars von Trier, de Fassbinder a Gus Van Sant, ele trabalhou com alguns dos cineastas mais inovadores do século, sempre interpretando personagens que orbitavam o estranho, o marginal, o grotesco — e, por isso mesmo, o fascinante. Sua combinação de olhar penetrante, humor ácido e ousadia interpretativa fez dele uma figura rara; um ator que não apenas aceitava papéis difíceis, mas parecia buscá-los com prazer.
Nos últimos anos, estabeleceu uma forte conexão com o Brasil, ao integrar o elenco de Bacurau (2019) e o atualmente em cartaz O Agente Secreto (2025), ambos dirigidos pelo pernambucano Kleber Mendonça Filho.
A versatilidade de Kier o levou também a produções mainstream, como Blade, Ace Ventura e Armageddon, sem jamais abandonar o experimentalismo que moldou sua trajetória. Ele transitava entre Hollywood, Europa e cinema independente como quem atravessa cômodos de uma mesma casa, sempre deixando uma marca peculiar — aquela mistura de elegância, estranheza e imprevisibilidade que só ele possuía.
Fora das telas, Kier vivia em Palm Springs, onde cultivava jardins, esculturas e uma vida tranquila ao lado de McBride. Nos últimos anos, sua popularidade cresceu também entre os fãs de games, especialmente após ter sido anunciado em um projeto de Hideo Kojima, que lamentou profundamente sua morte e celebrou o ator como um “verdadeiro ícone”.
A morte de Udo Kier encerra uma vida inteira dedicada à arte, mas não encerra sua presença. Seus filmes — mais de 200 — permanecem como testemunho de uma carreira irrepetível, feita de risco, irreverência e criatividade. Kier não era apenas um ator; era uma experiência. E essa experiência, agora parte da história do cinema, continuará assombrando, encantando e inspirando por muitas décadas.
Comentários
Postar um comentário