Crítica | IT: Bem-Vindos a Derry - Episódio 7

Divulgação | HBO Max

• Por Alisson Santos

O episódio 7 de IT: Bem-Vindos a Derry é, até agora, o capítulo mais violento, emocionalmente dilacerante e esteticamente agressivo da série. Ele acerta em cheio ao entregar aquilo que vinha prometendo em trailers e migalhas narrativas; a revelação das origens humanas de Pennywise, ao mesmo tempo em que empurra Derry para seu ponto de ruptura moral, social e histórico. Se havia a sensação de que a série estava economizando o palhaço assassino, este episódio trata de compensar cada minuto de espera — com uma presença de Pennywise que beira o insuportável, de tão visceral, tão animalesca e tão desprovida de qualquer humanidade. Mas é na sequência do incêndio do Black Spot que o episódio realmente alcança sua força máxima.

A dramatização do incêndio do Black Spot — já conhecido pelos leitores de King por sua crueldade histórica — ganha aqui uma escala quase apocalíptica. A direção transforma o local num labirinto sufocante de madeira queimando, gente correndo em pânico, gritos abafados pela fumaça e uma sensação crescente de que não há saída possível. É uma sequência construída com uma precisão cruel; a câmera insiste em ficar próxima dos rostos, mostrando terror, desespero, a impotência diante da violência racista que culmina na tragédia.

É também um dos momentos mais sangrentos da série até agora. Há mortes explícitas, corpos consumidos pelas chamas, pessoas baleadas enquanto tentam escapar — tudo embalado pelo caos de uma multidão mascarada, tomada pelo ódio e pelo prazer sádico da destruição. O episódio não teme ser gráfico. Não teme ser emocionalmente destrutivo. E não teme chocar.

Entre todas essas perdas, há uma morte específica que marca profundamente o episódio — a de um personagem principal cuja presença vinha sustentando parte da trajetória emocional e cômica dos protagonistas. A cena é devastadora. Não apenas pela morte em si, mas pela maneira como ela acontece; lenta, inevitável, cruel. A câmera testemunha sua luta, sua tentativa desesperada de salvar alguém antes de ser sufocado pela fumaça. É uma dessas cenas que o espectador sente no estômago, que silencia qualquer trilha sonora interna e deixa um eco melancólico no final. É um momento belíssimo e trágico — e ao mesmo tempo revela o melhor e o mais doloroso que a série tem a oferecer.

Divulgação | HBO Max

Mesmo com o impacto gigantesco da tragédia, persiste a impressão de que a série ainda não encontrou a profundidade necessária para tratar o período de segregação racial em que está ambientada. Essa crítica permanece, como venho dizendo desde episódios anteriores. O episódio tenta — e às vezes até acerta — ao mostrar como a violência racista é estruturada na cidade e como Derry não precisa de Pennywise para ser monstruosa. Porém, falta maturidade narrativa em alguns momentos, falta desenvolvimento mais sóbrio das tensões sociais, falta mostrar como esse racismo se infiltra não apenas nas ações extremas, mas também no cotidiano. A brutalidade está lá, mas o contexto poderia ser mais rico, mais complexo, mais honesto. Ainda assim, o episódio 7 é o mais forte até agora nesse aspecto. Mesmo sem ser o retrato definitivo que poderia ser, está claro que o incêndio do Black Spot representa a interseção entre o mal humano e o mal sobrenatural que Pennywise amplifica.

Bill Skarsgård retorna aqui com uma presença muito mais intensa e agressiva do que nos episódios anteriores. E ele também aparece como Bob Gray, o homem, apresentado em flashbacks que misturam mistério, violência e decadência — revelando, peça por peça, como seu passado se transformou em matéria-prima para o monstro que conhecemos. Esses momentos em que o episódio costura Bob Gray ao Pennywise criam um mosaico perturbador. Vemos como o mal pode nascer de traumas, de frustrações, de um ego ferido, mas também de algo mais antigo e insondável — algo que está quase fora da compreensão humana. Pennywise, aqui, é simplesmente brutal. Não há humor, não há charme mórbido. Há apenas crueldade. Há um olhar vazio que comunica não só a intenção de matar, mas o prazer em fazê-lo. O monstro dança, mas é um balé de predador.

Outra força do episódio está em Dick Hallorann — cuja importância cresce de forma surpreendente. Sua sensibilidade paranormal, sua ligação com eventos que ainda vão acontecer criam uma ponte fascinante entre outras obras de King. É um acerto narrativo. Abre portas. Amplia a cosmologia. E sugere que Derry, mais do que nunca, é o vórtice onde todas as manifestações de mal podem nascer ou convergir.

O episódio 7 de IT: Bem-Vindos a Derry é uma catástrofe emocional cuidadosamente construída — uma mistura de horror histórico e sobrenatural que entrega algumas das cenas mais poderosas da série. O incêndio do Black Spot se torna um pesadelo que vai ecoar no episódio final, Pennywise finalmente assume seu reinado de terror, e a história começa a se fechar em torno de uma mitologia mais rica e interligada dentro do universo de Stephen King. Apesar de ainda tropeçar no desenvolvimento social e racial, este capítulo consolida a série como algo maior do que uma simples série derivada. Ele mostra que Derry não é apenas o berço do mal — ela é o palco onde o mal é celebrado, alimentado e, tragicamente, muitas vezes ignorado.

O sétimo episódio vai ao ar às 23h, na HBO e na HBO Max.

Avaliação - 8/10

Comentários

Postar um comentário