Crítica | Abraço de Mãe - Pode até falhar no terror, mas consegue levar Ana, e nós com ela, em uma jornada desorientadora, que é ao mesmo tempo um estudo psicoterapêutico.

Divulgação | Lupa Filmes

TítuloAbraço de Mãe (Título original)
Ano produção2023
Dirigido por
Cristian Ponce
Estreia
23 de outubro de 2024 (Mundial)
Duração 90 Minutos
Classificação14 - Não recomendado para menores de 14 anos
Gênero
Terror - Suspense 
País de Origem
Brasil e Argentina
Sinopse

Em uma tempestade torrencial, uma equipe de bombeiros é enviada a um asilo em risco de desabamento. A missão: evacuar o local e sair de lá com vida.

• Por Alisson Santos 
• Avaliação - 6/10

Conhecemos a bombeira Ana (Marjorie Estiano) quando criança, quando são dadas as primeiras dicas de que sua mãe quer fazer mal a ela, e quando vemos a dupla vivenciar um incêndio devastador em casa. Flashbacks deste e de outros eventos da infância de Ana são intercalados com a história atual sobre Ana sendo reintegrada ao serviço ativo após congelar durante uma tentativa de resgate no mesmo dia da morte de sua mãe. Ana e seus companheiros de equipe de bombeiros, Dias (Val Perré), Roque (Reynaldo Machado) e Mourão (Rafael Canedo), recebem um chamado para uma casa de repouso durante uma tempestade que causou inundações e grandes danos no Rio de Janeiro em janeiro de 1996. Nenhum dos funcionários, incluindo a proprietária idosa Drica (Ângelo Rebelo) e o gerente Ulisses (Javier Drolas), nem os moradores aparentemente silenciosos pediram ajuda, no entanto, e eles deixam claro que não desejam ser evacuados, exceto por uma jovem assustada chamada Lia (Maria Volpe). Some-se a isso o comportamento cada vez mais bizarro da equipe e dos moradores, e o fato de que antes os espectadores tinham visto algo assustador deslizando na água, e temos um bom cenário para uma história de terror. 

Um filme como esse tem que brincar com cuidado com o mistério Lovecraftiano no centro de tudo, porque o orçamento é baixo. Claro, tentáculos deslizam pelos parapeitos e corredores da mansão, mas raramente eles jogam no perigo até o grand finale. Efeitos visuais menores amplificam a atmosfera aqui, mas pra mim não funciona para criar medo. Os efeitos especiais sempre deixam a criatura fora de foco para ajudar a amenizar o CGI, que pode parecer malfeito. 

Além de ser uma questão orçamentária, toda essa construção com pequenos vislumbres, busca causar uma tensão no espectador, mas de alguma forma não funciona. O problema geral é que a história não apresenta uma ameaça suficiente para Ana e sua equipe. Mesmo esse aspecto do horror cósmico, a construção dos gatilhos para nos deixar ansiosos sobre o resultado final é inevitavelmente fraco. Ana não precisa saber tudo o que está acontecendo com todos, mas nós precisamos para ficarmos com medo por ela. 

Divulgação | Lupa Filmes

A mansão contém a maior parte da ação central, e o design de produção é muito bom. Os cômodos parecem vazar, e as grades sobre todas as janelas nos fazem imaginar quem eles estão tentando manter fora (ou dentro). Esse design de produção intencionalmente evoca imagens e provoca perguntas que nunca são respondidas, como uma série de fotos que podem sugerir origens nazistas para o lugar, mas nunca parecem respondê-las. Eu acho uma escolha interessante, deixar a cargo do espectador sua própria interpretação. Ajuda intuir o lugar assustadoramente mais perigoso do que ele é. 

Inegavelmente, "Abraço de Mãe" é um projeto ambicioso, às vezes exagerado, e há problemas com o ritmo. O trecho do meio envolve um pouco de perambulação sem muita coisa acontecendo. Marjorie Estiano é uma protagonista forte. Eu não achei um filme ruim, é assistível do começo ao fim. A fotografia turva, com cheiro de decadência, é bastante eficaz.

Pode até falhar no terror, mas consegue levar Ana, e nós com ela, em uma jornada desorientadora, que é ao mesmo tempo um estudo psicoterapêutico. Ana deve aprender a se desvencilhar da mãe de todos os monstros e a dar as costas à sua própria história, não importa quão doloroso seja o processo de seu renascimento.

"Abraço de Mãe" já está disponível na Netflix.

Comentários