Crítica | Capitão América: Admirável Mundo Novo - A herança de um escudo que não encontra seu legado.

Divulgação | Marvel Studios

TítuloCaptain America: Brave New World (Título original)
Ano produção2023
Dirigido por
Julius Onah
Estreia
13 de fevereiro de 2025 (Brasil)
Duração 120 Minutos
Classificação14 - Não recomendado para menores de 14 anos
Gênero
Ação 
País de Origem
Estados Unidos 
Sinopse

Após se encontrar com o recém-eleito presidente dos EUA, Thaddeus Ross, Sam se vê no meio de um incidente internacional. Ele deve descobrir o motivo por trás de um plano global nefasto antes que o verdadeiro responsável faça com que o mundo todo veja vermelho. 

• Por Alisson Santos 
• Avaliação - 5/10

O Universo Cinematográfico da Marvel enfrenta há anos uma crise de identidade. Desde o encerramento da Saga do Infinito, a franquia luta para definir sua nova era e apresentar personagens capazes de carregar o peso simbólico de ícones como Tony Stark e Steve Rogers. Esse desafio se torna ainda maior quando falamos de um herói como o Capitão América, cujo legado foi forjado pelo comprometimento inabalável de Chris Evans no papel de Steve.  

Cinco anos após 'Vingadores: Ultimato', era esperado que Sam Wilson (Anthony Mackie) estivesse consolidado como o novo Capitão América. No entanto, "Capitão América: Admirável Mundo Novo" escancara as dificuldades do UCM em tornar essa transição natural. Em vez de oferecer uma narrativa focada em Sam, o filme dispersa sua atenção entre subtramas excessivas, personagens desconectados e uma urgência artificial que, ao invés de impulsionar a história, a enfraquece. O resultado é um longa que tenta desesperadamente se ancorar no passado e, ao fazê-lo, esvazia a relevância de seu protagonista. 

Desde sua introdução em 'Capitão América: O Soldado Invernal', Sam Wilson foi um coadjuvante confiável, com princípios fortes e um humor afiado, mas que nunca enfrentou os mesmos testes que Steve. Passar o escudo para ele fez sentido emocionalmente, mas a execução dessa transição sempre foi problemática.  

'Falcão e o Soldado Invernal' tentou abordar a complexidade de um homem negro assumindo o manto do Capitão América, mas tropeçou em sua própria ambição. Com discursos expositivos e uma trama política mal desenvolvida, a série falhou em consolidar Sam como um Capitão América completo. "Admirável Mundo Novo" deveria corrigir isso, mas, em vez disso, mantém Sam à margem de sua própria história.  

Desde os primeiros minutos, fica claro que a trama tem outras prioridades. O desenvolvimento de Sam é frequentemente interrompido por intrigas políticas, reviravoltas superficiais e a impressão de que o próprio UCM não sabe o que fazer com ele. 

Divulgação | Marvel Studios

O filme se inicia com a posse de Thaddeus Thunderbolt Ross (Harrison Ford) como presidente dos Estados Unidos, criando um clima político tenso. Seu plano de reabilitação envolve a Ilha Celestial, surgida após os eventos de Eternos, onde foi descoberto um novo recurso: o adamantium. Diferente do vibranium, protegido por Wakanda, esse metal precioso está disponível para quem puder reivindicá-lo primeiro.  

A disputa pelo adamantium poderia ter sido uma metáfora interessante sobre exploração de recursos e colonialismo. No entanto, o filme transforma essa premissa em pano de fundo para uma narrativa genérica sobre traições e experimentos militares. Ross, antes um militar linha-dura, agora se apresenta como um estadista pragmático, mas suas intenções se tornam cada vez mais obscuras.  

Sam é convocado à Casa Branca para discutir a formação de um novo grupo de Vingadores. A princípio, ele hesita – e com razão. Ross foi responsável por sua prisão em 'Guerra Civil', e Sam conhece a história de Isaiah Bradley (Carl Lumbly), o super-soldado negro perseguido pelo governo. A desconfiança de Sam em relação a Ross é um dos momentos mais genuínos do filme e poderia ser seu ponto central. No entanto, como muitas outras boas ideias, essa tensão logo é deixada de lado.  

Quando Isaiah Bradley sofre uma ativação mental inesperada e tenta assassinar Ross, a trama se desvia para um thriller de conspiração com ecos de 'O Soldado Invernal', mas sem o mesmo impacto. Sam, que deveria estar no centro da ação, muitas vezes parece um coadjuvante no próprio filme.  

Um dos maiores erros do filme é o tratamento dado aos antagonistas. Giancarlo Esposito interpreta Sidewinder, líder do grupo "Serpentes", que deveria ser uma ameaça significativa, mas se resume a um peão na trama maior. A Marvel tem um histórico de desperdiçar talentos excepcionais em papéis superficiais, e este é mais um exemplo gritante. Sidewinder nunca se torna uma ameaça real, servindo apenas como um obstáculo temporário para Sam.  

Divulgação | Marvel Studios

Enquanto isso, Ross caminha para sua inevitável transformação no Hulk Vermelho. A ideia de um presidente literalmente se tornando um monstro poderia ter sido poderosa, se bem explorada. No entanto, o filme a trata como uma reviravolta previsível, priorizando cenas de ação em detrimento de qualquer reflexão mais profunda.  

E as cenas de ação? São competentes, mas genéricas. Não há nada inovador ou memorável. Nenhuma sequência se destaca, e tudo soa como um reaproveitamento de momentos que já vimos incontáveis vezes no UCM. E o CGI? Em diversos momentos, ele deixa a desejar, resultando em cenas visivelmente artificiais. A maquiagem e a prótese do Líder são simplesmente assustadoras - e não de um jeito intencionalmente grotesco. O personagem já é feio por natureza, mas aqui o resultado é apenas malfeito e desagradável.

O maior problema de "Admirável Mundo Novo" é a sensação de que ele tenta equilibrar muitas responsabilidades e fracassa em todas elas. Ele precisa reintroduzir personagens esquecidos de 'O Incrível Hulk', estabelecer a geopolítica do adamantium, construir Ross como uma figura de poder e consolidar Sam como Capitão América. Mas, ao tentar fazer tudo isso ao mesmo tempo, não faz nada direito.  

Diferente de Steve Rogers, que sempre teve agência clara em suas decisões, Sam passa boa parte do filme reagindo aos acontecimentos. Sua parceria com Joaquin Torres (Danny Ramirez) é superficial. Seu embate moral com Ross é atropelado pela transformação do presidente no Hulk Vermelho. Seu arco pessoal, que deveria ser o coração do filme, é constantemente ofuscado pelo roteiro desordenado.  

No final, "Admirável Mundo Novo" não responde à pergunta essencial: quem é Sam Wilson como Capitão América? O que ele representa? O que o diferencia de Steve Rogers? O filme sugere essas questões, mas nunca as explora de fato. 

"Capitão América: Admirável Mundo Novo" encapsula os problemas que assombram o UCM nos últimos anos. Ele tenta resgatar tramas abandonadas, introduzir novos elementos e consolidar um protagonista que ainda não teve espaço para brilhar. No fim, fracassa em todas essas frentes.  

Sam Wilson merecia um filme verdadeiramente seu – uma história que o colocasse no centro da ação de forma significativa. Em vez disso, "Admirável Mundo Novo" faz de sua primeira grande aventura solo um trampolim para outras narrativas, deixando seu protagonista à deriva. A Marvel ainda tem tempo para corrigir esse curso, mas, por enquanto, o escudo do Capitão América continua sendo um peso difícil de carregar. 

"Capitão América: Admirável Mundo Novo" estreia hoje nos cinemas e possui uma cena pós-créditos.

Comentários

  1. Assisti hoje e que bagunça esse filme é, minha nossa!

    ResponderExcluir

Postar um comentário