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• Por Alisson Santos
O cinema brasileiro brilhou intensamente na 75ª edição do Festival de Berlim, um dos mais prestigiados eventos cinematográficos do mundo, ao lado de Cannes e Veneza. O longa-metragem O Último Azul (The Blue Trail, em inglês), dirigido por Gabriel Mascaro, foi agraciado com o Urso de Prata — Grande Prêmio do Júri, consolidando ainda mais a trajetória do cineasta pernambucano, conhecido por obras como 'Boi Neon' e 'Divino Amor'.
A cerimônia de premiação aconteceu neste sábado (22), no icônico Berlinale Palast, reunindo nomes importantes da equipe do filme. Além de Mascaro, estavam presentes a atriz Denise Weinberg, o ator Rodrigo Santoro, os produtores Rachel Daisy Ellis e Sandino Saravia Vinay, entre outros profissionais que contribuíram para a realização da obra. O júri da competição oficial deste ano foi presidido pelo renomado cineasta Todd Haynes, conhecido por trabalhos como 'Carol' e 'Longe do Paraíso'.
Antes mesmo da cerimônia principal, O Último Azul já havia se destacado ao receber dois prêmios paralelos: o Prêmio do Júri Ecumênico, concedido por representantes de diferentes tradições cristãs, e o Prêmio do Júri de Leitores do jornal Berliner Morgenpost, refletindo o impacto da obra tanto entre especialistas quanto no público geral.
Durante seu discurso emocionado ao receber o Urso de Prata, Mascaro fez questão de exaltar o esforço coletivo por trás da produção e o significado mais profundo de seu filme:
"Muitos filmes que me inspiraram como cineasta estrearam aqui, na Berlinale. Quero expressar minha mais profunda gratidão ao júri por confiar este prêmio ao meu filme. Ele existe graças à dedicação de muitas pessoas que trabalharam duro para transformar este sonho em realidade. O Último Azul fala sobre o direito de sonhar e a crença de que nunca é tarde para encontrar um novo significado na vida."
A atriz Denise Weinberg, que interpreta a protagonista Tereza, destacou a importância do reconhecimento para o cinema brasileiro:
"Estamos muito, muito felizes com esse Urso de Prata e alavancando o cinema brasileiro depois de anos de trevas. Somos capazes, sim, somos criativos, sim. Temos de levantar nossa autoestima e continuar resistindo!"
Rodrigo Santoro, cuja participação, embora pontual, oferece lastro internacional à produção, complementou:
"Quando o cinema brasileiro independente recebe um reconhecimento dessa relevância, a maior vencedora é a nossa cultura. É emocionante representar o Brasil num filme que nos convida a reeducar o olhar para um tema tão urgente."
O Último Azul apresenta uma narrativa distópica que, ao mesmo tempo, ecoa questões sociais contemporâneas. A trama se passa em um país fictício que, sob o pretexto de promover uma sociedade mais produtiva, determina o exílio compulsório de idosos a partir dos 75 anos, enviando-os para colônias remotas — uma medida mascarada por campanhas governamentais repletas de slogans e publicidade sedutora.
A protagonista Tereza, vivida por Denise Weinberg com sensibilidade e força, está prestes a ser enviada para uma dessas colônias. No entanto, ao invés de se submeter passivamente, ela decide realizar um desejo adiado por toda a vida. Determinada, embarca em uma jornada clandestina pelos rios amazônicos, o único caminho ainda disponível para escapar do controle estatal.
Nesse trajeto, ela cruza com Cadu, interpretado por Rodrigo Santoro, um barqueiro enigmático que se torna peça-chave em sua travessia. A relação entre os dois revela tanto as fragilidades quanto as potências humanas diante da opressão e do desconhecido.
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