Crítica | Como Treinar o Seu Dragão - Para fãs, um reencontro caloroso. Para o cinema, uma bela vitrine, ainda que com as janelas fechadas.

Divulgação | Universal Pictures 

• Por Alisson Santos 

A adaptação em live-action de Como Treinar o Seu Dragão, dirigida por Dean DeBlois, que retorna ao universo que ele mesmo consagrou na animação, é, acima de tudo, um exercício de reverência. Reverência à estética, ao tom emocional e ao arco de amadurecimento que marcou a trilogia original da DreamWorks. Mas ao apostar tão alto na fidelidade visual e estrutural, o filme se vê, por vezes, acorrentado por sua própria ambição.

O elenco liderado por Mason Thames no papel de Soluço entrega uma atuação comprometida, ainda que não totalmente carismática. Thames tenta equilibrar o peso dramático de um jovem viking dividido entre a tradição e a empatia, mas carece de nuances capazes de sustentar o impacto emocional que o personagem carrega na animação. Nico Parker, como Astrid, traz energia e determinação ao papel, mas tem pouco espaço para desenvolver uma dinâmica crível com o protagonista. O restante do elenco, incluindo Gerard Butler, que retorna como Stoico, agora em carne e osso, cumpre função narrativa sem maiores destaques, funcionando mais como peças de uma engrenagem que, embora bem lubrificada, gira de forma previsível.

Divulgação | Universal Pictures

Tecnicamente, a direção de arte se esforça para recriar a vila de Berk com detalhes minuciosos, e os dragões, especialmente Banguela, são renderizados com um capricho visual que beira o deslumbramento. E é justamente aqui que reside o grande triunfo do filme; Banguela é um colosso de carisma. Mesmo digitalmente recriado, o Fúria da Noite mantém sua expressividade felina, seu humor físico sutil e sua conexão quase telepática com Soluço. É nele que reside a alma do longa, o coração pulsante que injeta leveza e humanidade num filme que, em muitos momentos, parece engessado demais por sua reverência estética.

É como se o filme, ao mirar no realismo, esquecesse que a magia do original residia justamente na suspensão do real. Em uma cena icônica, a primeira vez em que Soluço toca Banguela, a tensão e a doçura do momento são recriadas quase quadro a quadro, mas a emoção, paradoxalmente, soa menos natural. O excesso de cuidado, aliado a uma direção que parece temer reinventar-se, transforma o que era poético em algo tecnicamente correto, mas emocionalmente contido.

Ainda assim, Como Treinar o Seu Dragão não é um fracasso. Pelo contrário, é uma produção visualmente primorosa, que respeita profundamente sua origem e entrega ao público uma experiência cinematográfica sólida. Mas é também um lembrete sutil de que nem toda fantasia animada precisa se vestir de carne e osso para ganhar valor. No fim, é um espetáculo visual com coração pulsando em Banguela, mas que se esquece, por vezes, de respirar por conta própria. Para fãs, um reencontro caloroso. Para o cinema, uma bela vitrine, ainda que com as janelas fechadas.

Estreia oficialmente nos cinemas brasileiros no dia 12 de junho, mas já conta com sessões antecipadas desde ontem (7).

Avaliação - 7/10 

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