Crítica | Corra Que a Polícia Vem Aí! - É um lembrete do valor da comédia física e da importância do timing, embalado por uma energia caótica e um elenco que, no melhor dos casos, sabe rir de si mesmo.
• Por Alisson Santos
O retorno de Corra Que a Polícia Vem Aí! às telonas em 2025 é um daqueles eventos raros no cinema; um soft reboot que, ao mesmo tempo, respeita o espírito do original e encontra novas formas de provocar gargalhadas. Dirigido por Akiva Schaffer, o quarto filme da franquia tem consciência absoluta de sua simplicidade narrativa — e é exatamente isso que o torna tão funcional. Aqui, o centro gravitacional é Liam Neeson, que assume o papel de Frank Drebin Jr., filho do icônico personagem de Leslie Nielsen. A escolha é, no mínimo, curiosa e, na prática, um acerto retumbante.
Neeson, conhecido por sua persona implacável em thrillers de ação, abraça o absurdo com um nível de autoconsciência que surpreende. Seu histórico de papéis repetitivos é usado como munição cômica, resultando em um timing preciso, em que a seriedade extrema vira catalisador de piadas. A dinâmica lembra o que Nielsen fez nos anos 80, mas com uma camada meta que dialoga com o estado atual do cinema de ação — quase como se Neeson estivesse rindo da própria carreira enquanto resolve o caso mais ridículo do mundo.
O enredo é direto ao ponto; Drebin Jr. se envolve numa investigação que começa com um roubo frustrado e o leva a descobrir uma conspiração arquitetada por um bilionário (Danny Huston), auxiliado por uma femme fatale vivida por Pamela Anderson. Entre disfarces improváveis, perseguições nonsense e diálogos que soam ainda mais engraçados pela entrega seca de Neeson, o filme transita entre o pastelão e a sátira com naturalidade.
Pamela Anderson, que inicia como uma figura sedutora e misteriosa, logo mergulha no espírito do nonsense, rendendo momentos hilários. O elenco secundário, porém, não mantém o mesmo nível; Paul Walter Hauser se esforça, mas soa deslocado, especialmente quando o foco se afasta do protagonista. Ainda assim, a química geral sustenta o ritmo, favorecida por uma montagem ágil e pela decisão inteligente de manter a duração enxuta — pouco menos de 1h20 sem créditos, evitando gordura narrativa e subplots desnecessários.
Divulgação | Paramount Pictures |
Visualmente, Schaffer injeta pequenas homenagens e piadas escondidas em quase cada quadro. Há piscadelas para fãs antigos e referências diretas aos filmes originais, mas também uma atualização de gênero; a trilha de Lorne Balfe parodia Hans Zimmer e até flerta com Missão: Impossível, criando uma atmosfera épica para situações absolutamente ridículas. Esse contraste é uma das forças do longa.
O maior mérito do filme está em reconhecer que não precisa reinventar nada. Corra Que a Polícia Vem Aí! sempre funcionou pela combinação de um protagonista estoicamente incompetente com um mundo que leva o absurdo a sério. Em 2025, essa fórmula não apenas sobrevive, como encontra nova relevância num cenário onde comédias desse tipo se tornaram raras nas salas de cinema. O resultado é um espetáculo leve, que provoca risadas coletivas — uma experiência cada vez mais incomum na era do streaming.
Não é perfeito; algumas piadas já foram entregues no material promocional e certos momentos do terceiro ato poderiam ter explorado melhor o elenco secundário. Mas quando Neeson está em cena, o filme brilha. É nele que reside o coração dessa nova fase, e é graças a ele que o reboot não parece uma tentativa cínica de explorar nostalgia.
No fim, Corra Que a Polícia Vem Aí! é um lembrete do valor da comédia física e da importância do timing, embalado por uma energia caótica e um elenco que, no melhor dos casos, sabe rir de si mesmo. Pode não ser o melhor da franquia, mas entrega exatamente o que promete; uma hora e vinte de absurdo deliciosamente calculado.
O filme estreia quinta-feira nos cinemas.
Avaliação - 7/10
Comentários
Postar um comentário