Prime Video lança “A Mulher da Casa Abandonada”, uma história real sobre silêncio, dor e resistência
Divulgação | MDH Entretenimento |
• Por Alisson Santos
Nesta sexta-feira, 15 de agosto, o Prime Video estreia A Mulher da Casa Abandonada, adaptação do podcast criado por Chico Felitti que, à época de seu lançamento, se transformou em um fenômeno jornalístico enigmático — acompanhada com fascínio e estranhamento por ouvintes que, dia após dia, seguiam o mistério de uma mansão em ruínas no bairro paulistano de Higienópolis e de sua habitante reclusa, Margarida Bonetti. Por trás das paredes descascadas e das cortinas sempre fechadas, havia mais do que apenas um cenário de decadência; escondia-se um passado sombrio, marcado por acusações de tráfico de pessoas e trabalho forçado nos Estados Unidos.
No centro dessa narrativa, há outra mulher: Hilda. Não uma figura envolta em segredos, mas uma sobrevivente. Vítima de escravidão moderna, arrancada de qualquer noção de liberdade e condenada a um isolamento que a feriu por dentro e por fora. Hoje, ela luta para reconstruir a vida no mesmo país que um dia foi sua prisão. São memórias que o tempo tentou sufocar, cicatrizes que se recusam a desaparecer e silêncios que ainda ecoam.
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Sob a direção atenta e humana de Kátia Lund, com roteiro de Mariana Paiva e equipe de apoio e produção executiva de Chico Felitti, a série se aproxima de Hilda com paciência e cuidado. Durante anos, ela recusou falar. Só após um longo processo de confiança decidiu abrir as feridas — falando sobre o peso de ter sido explorada, a solidão sufocante e a coragem necessária para sobreviver.
Hilda não sabe ao certo quantos anos tem, nem a data de seu próprio aniversário. Reconstruiu-se nos Estados Unidos com a ajuda da Organização Vida, entre poesias, pinturas e laços com a comunidade latina. Há mais de uma década, conta com a presença constante de uma amiga que cuida dela todos os dias. Um ferimento na perna, exibido em reconstituições na série, torna-se metáfora da dor que nunca cicatriza — física e emocional. “Usamos o simbolismo para tentar traduzir um pouco do que ela sente”, diz Mariana Paiva.
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O documentário abre espaço para vozes que ajudam a compreender a dimensão desse trauma; o apoio do governo americano, que garantiu moradia; o depoimento de um agente do FBI convidado por Hilda; vizinhos que testemunharam um padrão de violência que ia muito além de um episódio isolado — um processo de apagamento quase total de sua existência.
Sem recorrer ao sensacionalismo, A Mulher da Casa Abandonada provoca reflexão e empatia, revelando uma ferida ainda aberta na sociedade; a escravidão que sobrevive sob novas formas no século XXI. É uma narrativa de perdas irreparáveis, mas também de resistência silenciosa. E de uma voz que, apesar de tudo, se recusa a desaparecer.
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