Crítica | G-DRAGON IN CINEMA: ÜBERMENSCH - Visualmente arrebatador e musicalmente sólido, o filme é uma celebração exuberante do mito G-Dragon — ainda que, sob a superfície brilhante, a reflexão sobre o “além-do-homem” permaneça mais como estética do que como filosofia.

Divulgação | Sato Company

• Por Alisson Santos 

Há artistas que voltam. E há os que ressurgem como se o próprio palco fosse o altar de uma nova era. G-DRAGON IN CINEMA: ÜBERMENSCH pertence a essa segunda categoria — um filme-concerto que ultrapassa a mera documentação de uma turnê para se tornar um manifesto visual sobre poder, transformação e autocriação.

Após quase uma década de silêncio e especulações, G-Dragon retorna com a turnê Übermensch e decide eternizá-la em um registro cinematográfico exibido nos formatos mais sofisticados disponíveis — IMAX, 4DX, ScreenX. A proposta é clara; transformar o espetáculo em experiência sensorial total. O resultado é um show filmado com a opulência de um ritual tecnológico, onde cada batida, cada luz e cada movimento de câmera parecem existir para reafirmar o mito do artista que sempre foi maior que o gênero que o consagrou.

O filme começa sem preâmbulo; G-Dragon surge entre labaredas e neons, uma figura quase messiânica emoldurada por visuais que mesclam futurismo e decadência. A câmera, inquieta e fluida, percorre o palco como se buscasse decifrar o homem por trás do ídolo — mas encontra apenas o ídolo multiplicado, projetado em telas, espelhos e hologramas. O público, uma massa extasiada, funciona como extensão do próprio espetáculo. A comunhão entre artista e plateia é o verdadeiro argumento do filme.

Musicalmente, G-DRAGON IN CINEMA: ÜBERMENSCH é um passeio pela trajetória de G-Dragon; dos clássicos “Crooked” e “Heartbreaker” às novas faixas que exploram sonoridades mais densas e industriais, há uma sensação de fechamento de ciclo. O carisma do cantor continua intacto — ora explosivo, ora introspectivo — e sua presença de palco é a de alguém que entende a performance não apenas como entretenimento, mas como forma de existência.

A grandiosidade visual, porém, é tanto virtude quanto armadilha. G-DRAGON IN CINEMA: ÜBERMENSCH impressiona no formato certo — o som imersivo, as projeções, os movimentos tridimensionais criam uma experiência quase espiritual —, mas perde parte do impacto quando visto fora das salas premium. O filme foi pensado para ser uma extensão da turnê, não uma obra autônoma. E é aí que se encontra seu dilema central; como transformar o efêmero do palco em cinema sem depender do aparato técnico que o sustenta?

Divulgação | Sato Company

O título, emprestado do conceito nietzschiano de “além-do-homem”, promete uma reflexão sobre transcendência, mas essa dimensão filosófica se mantém na superfície. Há ecos de renascimento — o artista que retorna, que se recria, que reivindica sua identidade após o silêncio —, mas o filme prefere celebrar o mito a questioná-lo. O “Übermensch” de G-Dragon é mais estilístico que existencial. Ainda assim, essa estilização tem poder; é o retrato de um artista que compreende o espetáculo como linguagem, e a si mesmo como personagem de uma mitologia pós-moderna.

Do ponto de vista cinematográfico, a direção aposta em ritmo pulsante, montagem sincopada e fotografia saturada, criando um delírio visual que beira o excesso — mas é justamente esse excesso que define G-Dragon. Ele não busca equilíbrio, mas impacto. Cada corte, cada troca de figurino, cada explosão de luz serve ao mesmo propósito; traduzir o poder do ícone em pura energia audiovisual.

No fim, G-DRAGON IN CINEMA: ÜBERMENSCH não é um filme para ser interpretado — é um filme para ser sentido. A emoção não vem de um arco narrativo, mas da força performática de um artista que, aos 36 anos, ainda domina o palco como se fosse a primeira e última vez. Há algo de comovente nesse retorno; um homem tentando transcender a própria imagem, mesmo sabendo que ela o engoliu há muito tempo.

G-DRAGON IN CINEMA: ÜBERMENSCH estreia em 30 de outubro com distribuição da Sato Company.

Avaliação - 7/10

Comentários