| Divulgação | Universal Pictures |
• Por Alisson Santos
Wicked: Parte II chega aos cinemas carregando a difícil missão de concluir uma história que, para muitos espectadores, já parecia completa em sua primeira metade. Jon M. Chu abraça essa responsabilidade com ambição, entregando um filme visualmente arrebatador, emocionalmente intenso e repleto de performances brilhantes, ainda que marcado por problemas estruturais que impedem a obra de alcançar o mesmo impacto narrativo da primeira parte. O resultado é um final luminoso e digno, mas que por vezes escorrega na própria grandiosidade.
O retorno a Oz é imediato e turbulento. Glinda, interpretada por Ariana Grande com uma combinação fascinante de humor, nervosismo e sensibilidade, agora ocupa com firmeza a posição de porta-voz do reino. Sua imagem pública é impecável, mas Chu faz questão de revelar as fissuras internas dessa personagem, tornando-a tão vulnerável quanto glamourosa. Do outro lado, Elphaba, vivida com devastadora intensidade por Cynthia Erivo, caminha pelas sombras de um mundo que insiste em rejeitá-la. Isolada, perseguida, transformada em símbolo de tudo o que Oz teme e não compreende, ela se torna o centro emocional da narrativa — não pelo espetáculo, mas pela força íntima e dolorosa de sua presença.
Apesar da beleza visual, o filme tropeça na maneira como costura suas cenas. A montagem acelerada cria uma sensação de urgência constante, mas também impede que os conflitos amadureçam organicamente. Em vários momentos, a história parece se mover em saltos bruscos, como se estivesse sempre correndo atrás de algo que ficou para trás. Sequências grandiosas se acumulam, mas nem sempre se conectam, o que deixa algumas relações — especialmente as mais delicadas — subdesenvolvidas. A narrativa, em vez de conduzir o espectador por um caminho claro, flutua como um sonho febril, onde a emoção está sempre presente, mas a lógica interna nem sempre acompanha.
A irregularidade também aparece na condução de personagens secundários. Enquanto Elphaba e Glinda recebem todo o cuidado dramático e interpretativo que merecem, figuras como Boq são abandonadas por um roteiro que parece desistir de suas histórias antes mesmo de concluí-las. Sua participação, que deveria trazer peso ao arco emocional do filme, acaba se perdendo em resoluções abruptas e mal construídas. Fiyero, embora essencial, também se dissolve rapidamente no ritmo frenético da narrativa, deixando a sensação de que seu desenvolvimento poderia — e deveria — ter sido melhor explorado.
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E isso nos leva ao obstáculo central; Wicked: Parte II simplesmente não guarda para o final o que torna sua história tão poderosa. Todos os grandes temas, conflitos e viradas já foram explorados na primeira parte — a amizade improvável, o despertar de Elphaba, a corrupção de Oz, o nascimento do mito. Na parte 2, sobra o que sempre foi mais difícil de adaptar; o acerto de contas político, a queda das máscaras, o destino amargo que o mundo escreve sobre suas bruxas. Chu tenta transformar esse material, que é menos empolgante por natureza, em algo cinematograficamente impactante; às vezes consegue, outras vezes parece apenas tentar recuperar um brilho que já se esvaiu.
O elenco, no entanto, nunca falha. Ariana Grande entrega sua melhor performance no cinema, equilibrando fragilidade e espetáculo com precisão delicada. Cynthia Erivo, como sempre, canta com a alma inteira — sua voz é a bússola emocional que guia o filme mesmo quando o roteiro perde direção. As duas juntas elevam sequências que, no papel, poderiam ser apenas funcionais. Ainda assim, o filme não encontra um número verdadeiramente arrebatador, capaz de marcar seu lugar na memória do público como “Defying Gravity” fez na primeira parte. Muitas canções surgem como reprises emocionais, belas, porém menos impactantes, como se o filme tentasse reviver o brilho anterior sem realmente criar algo novo.
Quando finalmente se aproxima de seu desfecho, Wicked: Parte II abraça um tom melancólico, quase anticlimático — e essa escolha, curiosamente, funciona. Chu entende que a história de Elphaba e Glinda não é feita de triunfos tradicionais, mas de destinos inevitáveis e do peso cruel das narrativas que o mundo insiste em construir sobre elas. O final, ainda que não entregue a catarse explosiva que alguns espectadores talvez esperem, encontra poesia na amargura, beleza na separação, grandeza na vulnerabilidade.
No fim, Wicked: Parte II é um espetáculo imperfeito, mas profundamente honesto em suas emoções. Carrega falhas claras, ritmo irregular e uma estrutura que, em certos momentos, desmorona sob sua própria grandiosidade. Mas também carrega momentos de brilho puro, performances extraordinárias e um senso de encerramento que, mesmo doce-amargo, respeita o coração dessa história. É um desfecho deslumbrante — não porque é impecável, mas porque, apesar de suas imperfeições, permanece inesquecível.
Wicked: Parte II estreia em 20 de novembro nos cinemas.
Avaliação - 7/10
A segunda parte do musical é realmente ruim e o Jon conseguiu tirar leite de pedra em fazer um filme nota 7.
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